JESUS
NOS DEU PODER E AUTORIDADE...
“Eis que vos dou poder
para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará
dano algum” ( Lc 10:13 )
Antes de
abordarmos o tema central deste verso, vale destacar que essa promessa de
Cristo refere-se à sua igreja, o que inclui; todos os cristãos e todo tempo em
que a igreja permanecer no mundo.
A promessa de Jesus: ‘estarei convosco até a consumação dos séculos’ ( Mt 28:20 ), se estende a todos os
membros da sua igreja, assim como a ordem: ‘Ide por todo mundo’ ( Mc 16:15 ). Considerando que a
promessa e a ordem de Cristo referem-se a todos os cristãos em todos os tempos,
obrigatoriamente devemos concordar que a promessa: “E estes sinais seguirão aos que
crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas
serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e
porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão” ( Mc 16:17 -18), não se restringe aos
apóstolos e aos primeiros discípulos.
Quando Jesus pediu ao
Pai que não tirasse os que eram d’Ele do mundo, seu pedido tinha por alvo os
discípulos naquela época e todos quantos cressem em Cristo em todos os tempos (
Jo 17:16 ), portanto, as promessas e a ordem que foi testemunhada pelos
apóstolos e alguns discípulos, abrange todos os cristãos em todos os tempos (
Mt 28:20 ).
A oração que Jesus fez: "E não rogo somente por estes,
mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim" ( Jo 17:20 ), demonstra que as
promessas de Deus não se restringiam aos apóstolos e discípulos "Porque a promessa vos diz
respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos
Deus nosso Senhor chamar" (
At 2:39 ).
Nossa proposta é
descortinar a compreensão dos leitores acerca desta promessa de Cristo: Eis que
vos dou poder. Não é porque muitos fazem mau uso do texto sobre sinais que
negaremos as promessas de Cristo para evitar que façam mau uso, pois seria o
mesmo que tolher a verdade.
Poder para ser feito filho
O evangelista João
deixou registrado que todos os que creem em Cristo recebem poder para serem
feitos (criados) filhos de Deus ( Jo 1:12 ). Neste verso o discípulo amado fez
um adendo explicando que ‘receber’ o Cristo é o mesmo que ‘crer’ n’Ele “Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu
nome” ( Jo 1:12 ).
Para compreender a
dimensão desta colocação do evangelista João, se faz necessário perguntar: que
poder é esse que é dado aos que creem? No que consiste tal poder? Para
responder essas perguntas é necessário usar as Escrituras.
O apóstolo Paulo deixou
registrado que o evangelho de Cristo é poder de Deus para salvação de todos os
que creem ( Rm 1:16 ). Na carta aos Corintos, ele também deixou registrado que
Cristo é o poder de Deus “Mas
para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo,
poder de Deus, e sabedoria de Deus” (
1Co 1:24 ). Ora, Deus criou todas as coisas por intermédio de Cristo, ou seja,
pela palavra do seu poder, de modo que Cristo é o poder de Deus ( Jo 1:3 ; Cl
1:16 ).
Todos os que recebem a
Cristo, ou seja, que creem em seu nome, recebem poder de Deus para serem feitos
(criados) filhos de Deus ( Jo 1:12 ). Só é possível alguém crer em Cristo
quando lhe é anunciado a palavra de Deus ( Is 52:7 e 53:1). É essencial que
haja quem pregue e que, a mensagem seja a mesma anunciada por Cristo e os
apóstolos "Como, pois,
invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram?
e como ouvirão se não há quem pregue?" (
Rm 10:14 ; 1Jo 1:3 ); "Conserva
o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em
Cristo Jesus" ( 2Tm 1:13 ).
Ao fazer referência ao
seu papel evangelístico, o apóstolo Paulo disse: “Porque nada me propus saber entre
vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em
fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação,
não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em
demonstração de Espírito e de poder” (
1Co 2:2 -4).
A mensagem que o
apóstolo dos gentios anunciou aos cristãos tinha por tema o Cristo crucificado,
de modo que é possível concluir com segurança que expor a mensagem do evangelho
é demonstração de espírito e poder. Demonstrar que ‘Jesus de Nazaré
crucificado’ é o Cristo de Deus é exposição de poder.
Quando o apóstolo Paulo
foi ter com os crentes de Corinto, sua condição socioeconômica havia sido
alterada drasticamente, e ele afirma que estava em fraqueza, temor e receio.
A fraqueza do apóstolo Paulo
No caminho de Damasco
Saulo, o perseguidor dos cristãos, se fazia acompanhar de uma comitiva e,
estava de posse de cartas de recomendação dos magistrados concedendo-lhe
autoridade para lançar mão da igreja de Cristo ( At 9:2 ). Ele tinha o apoio
dos maiorais da sua nação e da religião, era o forte braço do farisaísmo, mas,
quando o apóstolo Paulo chegou a Corintos como servo de Cristo, não havia carta
de recomendação, comitiva, e tão pouco o apoio dos seus compatriotas.
A expectativa do
apóstolo Paulo de como seria aceito entre pessoas que no passado foram
perseguidas por ele, resultou no que é descrito como fraqueza, temor e tremor.
Quando chegou entre os cristãos, o apóstolo não possuía carta de recomendação
ou autoridade segundo os homens, o que se traduz em fraqueza, temor e receio.
Só mais tarde os cristãos de Corinto tornaram-se a sua carta "Vós sois a nossa carta, escrita
em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens" ( 2Co 3:2 ).
Mesmo vulnerável e tendo
que trabalhar com tendas, o apóstolo dos gentios comparecia às sinagogas para
disputar com os judeus, demonstrando perante os algozes de Jesus, que aquele
Jesus de Nazaré era o Cristo de Deus ( At 18:4 ). Ao escrever aos cristãos de
Corinto, o apostolo não hesitou em afirmar que a sua mensagem, a saber, a
mensagem da cruz de Cristo, é demonstração de espírito e de poder.
O apóstolo não expôs
filosofias, tradições, ou qualquer outra forma de conhecimento ou sabedoria
humana. A base do ministério do apóstolo dos gentios era convencer as pessoas
de que o Jesus de Nazaré, aquele que fora crucificado em Jerusalém, era o
Cristo, a mesma mensagem que levou Saulo a apedrejar Estevão ( Rm 1:1 -5; At
7:52 ).
Antes da sua conversão,
o apóstolo Paulo era ministro da lei, e após a conversão, tornou-se ministro do
evangelho, que em outras palavras é ‘ministro do espírito’. Na condição de
ministro do evangelho (espírito), o apóstolo dos gentios deixa claro que expor
o evangelho é demonstração de espírito, demonstração de poder “O qual nos fez também capazes de ser
ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra
mata e o espírito vivifica”( 2Co 3:6 ).
As palavras de Cristo
O Senhor Jesus Cristo
disse acerca de seu ensino: as palavras que vos tenho falado é espírito e vida,
e o apóstolo Paulo afirma que veio aos cristãos de Corinto com espírito e
poder, o que demonstra que o evangelho é espírito e poder "O espírito é o que vivifica, a
carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida" ( Jo 6:63 ).
O apóstolo Pedro, ao
exortar os cristãos, recomenda que: "Se
alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar,
administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado
por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre.
Amém" ( 1Pe 4:11 ).
Em outras palavras, cada
cristão deve falar segundo a verdade do evangelho, ou seja, exponha,
administre, entregue o poder que Deus dá; que entregue a mensagem que vivifica.
Quando administrar, os cristãos fazer sua administração segundo o evangelho de
Cristo, e não com base em conhecimento e sabedoria dos homens.
Por que foi necessária
esta recomendação?Porque já naquele tempo haviam surgido muitos falsos
profetas, de modo que havia muitos espíritos. A explicação vem do evangelista
João, que alertou quais espíritos eram estes? Se as palavras de Cristo é
espírito e poder, o que seriam estes ‘espíritos’ que o apóstolo João adverte?
Tais espíritos eram mensagens, pregações, ensinamentos propagados pelos falsos
profetas. Daí o alerta: é necessário ‘provar’ os espíritos.
O termo 'espírito'
O termo ‘espírito’
quando empregado por João refere-se ao conteúdo da mensagem pregada, conteúdo
este que pode ser de Deus ou do anticristo, de modo que quem ‘prova’ os
espíritos deve seguir a regra proposta pelo evangelista João no verso 3 do
capítulo 4 da sua primeira epístola “Amados,
não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque
já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o
Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é
de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não
é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de
vir, e eis que já está no mundo” (
1Jo 4:1 -3).
Qualquer que não
conserva o modelo das sãs palavras do evangelho, fala segundo o espírito do
anticristo "Conserva o
modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em
Cristo Jesus" ( 2Tm 1:13 ;
1Jo 2:18 ).
Espírito e possessão
Quando o apóstolo Paulo
diz: "E os espíritos dos
profetas estão sujeitos aos profetas" (
1Co 14:32 ), ele está demonstrando que a ‘palavra’ dos profetas é sujeita aos
profetas. Significa que o profeta possui controle sobre a mensagem que anuncia,
de modo que os profetas de Deus não são submetidos a uma ‘possessão divina’ ao
anunciar o evangelho, que é a palavra da profecia. De igual modo, significa que
os profetas do anticristo também não são tomados por uma possessão maligna,
antes o que ensinam decorre de uma carnal compreensão ( 1Co 2.14 ; Cl 2:18 ; 2Pe
2:12 ; Jd 1:4 ).
O profeta de Deus deve
trazer vívido na memória isto: "Sabendo
primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular
interpretação" ( 2Pe 1:20 ;
Ap 22:18 ), e em segundo lugar: que a ‘profecia’, ou a ‘firme palavra dos profetas’
não decorrem da vontade do homem, antes, o que os profetas falaram foi segundo
o Espírito Santo ( 2Pe 1:21 ).
Ao escrever aos cristãos
de Tessalônica, o apóstolo Paulo lembra que não foi ter com eles somente com
palavras (o termo ‘palavras’ substitui a ideia de sabedoria humana), antes
expôs (demonstrou) aos seus ouvintes poder, pois o evangelho é poder de Deus "Porque o nosso evangelho não foi
a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita
certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós" ( 1Ts 1:5 ).
O que ele escreveu aos
Tessalonicenses é o mesmo que escreveu aos Corintos: "Para que a vossa fé não se
apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus" ( 1Co 2:5 ). O motivo é claro: "Porque o reino de Deus não
consiste em palavras, mas em poder" (
1Co 4:20 ). Ora, o reino de Deus é Cristo!
Quando escreveu aos
Colossenses, o apóstolo demonstra que Cristo é o poder de Deus e que os
cristãos ressurgiram com Cristo por crerem n’Ele: "Sepultados com ele no batismo,
nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre
os mortos" ( Cl 2:12 ).
Revestidos da armadura
Ao aconselhar os
cristãos de Éfeso, o apóstolo dos gentios recomenda a se fortalecerem na força
que há no poder de Deus "No
demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder" ( Ef 6:10 ), que nada mais é do que se
‘encher do espírito’, ou seja, estar ‘pleno do conhecimento’ que há no
evangelho de Cristo "A
palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria,
ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos
espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração" ( Cl 3:16 ); “E não vos embriagueis com vinho, em
que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; Falando entre vós em salmos, e
hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso
coração” ( Ef 5:18 -19 ).
Ora, fortalecer-se no
poder de Deus é o mesmo que revestir-se de Cristo ( Rm 13:14 ), pois Jesus é a
verdade ( Jo 14:6 – cingindo os lombos com a verdade ). Ele é a nossa justiça (
1Co 1:30 – couraça da justiça). Cristo é o tema das boas novas do evangelho (
Rm 10:15 – calçados os pés). Cristo é eterna salvação aos que O obedecem ( Hb
5:9 – capacete da salvação).
O capacete da salvação é
a palavra, assim como a espada do espírito é a palavra. Os pés calçados
referem-se à palavra, assim como a couraça da justiça. O escudo da fé é a
palavra, assim como a vestimenta que cinge os lombos ( Is 59:17 ).
Jesus anunciou que
enviaria a promessa do Pai e que seus discípulos deveriam ficar em Jerusalém
até que fossem revestidos de poder "E
eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém,
até que do alto sejais revestidos de poder" ( Lc 24:49 ). No pentecostes, quando
vemos o apóstolo Pedro expondo aos seus irmãos segundo a carne a interpretação
dos salmos e dos profetas, constatamos de qual poder ele foi revestido: da
compreensão da palavra de Cristo.
Este revestimento de
poder foi anunciado e explicado em detalhes por Cristo no capítulo 14 do
evangelho de João "Mas
aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse
ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar-se de tudo quanto vos tenho
dito" ( Jo 14:26 ). A
promessa do Pai diz do Consolador, e o ‘revestimento’ ou a ‘unção’ prometida
diz da compreensão de tudo o que Jesus disse “Mas,
quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do
Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo
desde o princípio” ( Jo 15:26 -27
compare "E a unção que vós recebestes dele, fica em vós,
e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos
ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou,
assim nele permanecereis" (
1Jo 2:27 ; 1Jo 2:20 ).
Ora, o apóstolo Pedro já
estava limpo pela palavra de Cristo e cria que Jesus era o Filho de Deus,
porém, não compreendia as escrituras, o que só foi possível no pentecostes,
quando foi ‘ungido’, ou ‘revestido de poder’ ( Jo 15:3 ; Mt 16:16 ; Jo 7:39 ;
Lc 9:45 e Mc 8:33 ).
Em Lucas 10, verso 19
Jesus deu poder para os discípulos, e no capítulo 24 de Lucas é prometido
‘revestimento’, ‘unção’. Esta verdade é reafirmada pelo apóstolo em Efésios 6,
verso 10 dizendo que é necessário estar fortalecido em Deus e revestido do
poder de Deus: “No demais, irmãos
meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a
armadura de Deus...” ( Ef 6:10
-11).
Fortalecer no Senhor é
estar cônscio de que o mesmo poder que Deus fez ressuscitar o Cristo também é
utilizado na ressureição dos que creem, fazendo-os filhos de Deus “Tendo iluminados os olhos do vosso
entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as
riquezas da glória da sua herança nos santos; E qual a sobreexcelente grandeza
do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu
poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à
sua direita nos céus” ( Ef 1:18
-20; Cl 3:1 ).
O ‘revestir-se do poder’
refere-se a ter uma compreensão plena do evangelho de Cristo “Para que, segundo as riquezas da sua
glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no
homem interior; Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de,
estando arraigados e fundados em amor, Poderdes perfeitamente compreender, com
todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a
profundidade, E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para
que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para
fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos,
segundo o poder que em nós opera” (
Ef 3:16 -20 ).
Qual é o poder do
espírito? Neste verso não há alusão ao Espírito Santo, antes à palavra da
verdade, que é espírito e poder. Jesus mesmo disse que as suas palavras são
espirito e vida, e o apóstolo Paulo disse que a palavra é espírito e poder ( Jo
6:63 ; 1Co 2:4 ). No verso 16 da carta aos Efésios, o apóstolo faz alusão à
palavra, ou seja, ao poder da palavra, pois ele era ministro do espírito,
ministro da palavra, ministro de Cristo, ministro do poder de Deus ( 2Co 3:6
).
Quando compreendemos a
palavra da verdade, temos o revestimento de poder, ou nos revestimos da
armadura de Deus. Compreender a palavra da verdade é prova de que o cristão foi
revestido de poder, ou seja, que possui a unção do Espírito Santo, pois é Ele
quem guia em toda a verdade "Mas,
quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade;
porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos
anunciará o que há de vir" (
Jo 16:13 ).
Espírito de Elias
Quando o anjo Gabriel
anunciou o nascimento de João batista a Zacarias disse: "E irá adiante dele no espírito e
virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes
à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem
disposto" ( Lc 1:17 ). Este
verso comprova que ‘espírito’ e ‘poder’ diz da mensagem de Cristo, pois João
Batista não operou nenhum sinal miraculoso, apenas anunciou o reino dos céus “E muitos iam ter com ele, e diziam:
Na verdade João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era
verdade” ( Jo 10:41 ).
Quando Elias passou o
seu ministério para Eliseu, transmitiu porção dobrada do espírito de Elias "Sucedeu que, havendo eles
passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja
tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito
sobre mim" ( 2Re 2:9
).
Ora, em Lucas 1, verso
17 e João 10, verso 41, verifica-se que a porção dobrada que Eliseu recebeu não
se resumia em operar sinais, milagres e maravilhas, pois João veio no espírito
e poder de Elias e não operou milagres. O que isso significa?
Significa que o pedido
de Eliseu tinha relação com a palavra que Elias proclamava.
O mesmo espírito e o
mesmo poder que estava sobre Cristo esteve sobre João Batista, esteve sobre os
apóstolos, e está sobre a Igreja de Cristo ( Ef 4:4 ), isto porque há um só
espírito, que é respectivamente espírito, vida e poder para converter os
corações.
O ‘espírito’ e a
‘virtude’ de Elias consiste na proposta que ele fez ao povo de Israel: escolham
entre Deus e Baal “Até quando
coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o, e se Baal,
segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (
1Rs 18:21 ), e foi este mesmo espírito e poder que repousou sobre João Batista,
quando disse:“Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” ( Mt 3:2 ). O povo de Israel, em ambos
os casos precisavam mudar de concepção, poder para converter o coração dos
homens a Deus.
Observe que para a
mudança de concepção é necessário a ação da palavra: "E virá um Redentor a Sião e aos
que em Jacó se converterem da transgressão, diz o SENHOR. Quanto a mim, esta é
a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu espírito, que está sobre ti, e as
minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca
da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o
SENHOR, desde agora e para todo o sempre" ( Is 59:21 ), de modo que não é por
força e nem por violência, antes pela palavra de Deus.
Em Jerusalém o apóstolo
Pedro recebeu a promessa do Espírito, pois o mesmo Espírito que repousou sobre
Cristo segundo a profecia, também passou para os seus discípulos “O ESPÍRITO do Senhor DEUS está sobre
mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a
restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a
abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da
vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes” ( Is 63:1 -2).
Ora, o Espírito de Deus
estava sobre Cristo. E o que Jesus faria? Pregaria boas novas! Proclamaria
liberdade! Apregoaria tempo aceitável! Observe que o Espírito tem função
evangelística. De igual modo, a todos que aceitassem a Cristo, tornando-se
descendência de Abraão (filhos de Deus pela fé), teriam as mesmas palavras
anunciadas por Cristo em suas bocas "Quanto
a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu espírito, que está
sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua
boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua
descendência, diz o SENHOR, desde agora e para todo o sempre" ( Is 59:21 ).
Deus é poderoso para
fazer tudo mais abundante, porém, o que Ele faz é segundo a palavra do
evangelho, pois o evangelho é o poder que opera em todos os que creem "Ora, àquele que é poderoso para
fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos,
segundo o poder que em nós opera" (
Ef 3:20 ).
O evangelho é a ‘palavra
da verdade’, ‘poder de Deus’ e ‘armas da justiça’ "Na palavra da verdade, no poder
de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda" ( 2Co 6:7 ). O apóstolo cônscio da
verdade eterna, após ouvir o Senhor Deus, diz "De
boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o
poder de Cristo" ( 2Co 12:9
).
Em seguida, o apóstolo
Paulo faz a seguinte comparação: "Porque,
ainda que foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque
nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em
vós" ( 2Co 13:4 ).
O que este verso diz? Que os cristãos, apesar de terem sido
sepultados à semelhança da morte de Cristo, agora vivem porque creram (fé) no
evangelho (poder de Deus). O poder que há no evangelho é sobre-excelente, pois
é o mesmo poder que Deus operou em Cristo
ao ressuscitá-lo dentre os mortos "Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos" ( Cl 2:12 ); "E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus" ( Ef 1:19 ).
ao ressuscitá-lo dentre os mortos "Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos" ( Cl 2:12 ); "E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus" ( Ef 1:19 ).
Estevão era um homem
pleno de fé, ou seja, da palavra de Deus. Embora Estevão operasse sinais e
maravilhas, os escribas e fariseus resistiam à palavra que Estevão proclamava,
pois era a verdadeira demonstração de espírito e poder“E crescia a palavra de Deus,
e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte
dos sacerdotes obedecia à fé. E Estevão, cheio de fé e de poder, fazia
prodígios e grandes sinais entre o povo (...) disputavam com Estêvão. E não
podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava” ( At 7:7 -9).
Estevão não foi
apedrejado porque operava sinais e maravilhas, antes por causa da mensagem do
evangelho. Jesus não foi rejeitado pelos sinais e maravilhas, antes pela sua
palavra ( Jo 10:33 ). O espírito com que Estevão falava refere-se à palavra do
evangelho, que é demonstração de poder, de fé, de espírito e de
sabedoria.
Serpentes e escorpiões
No livro do Gênesis,
Satanás utilizou-se de uma serpente para destilar o veneno da mentira sobre o
homem. Ao distorcer a verdade anunciada por Deus, Adão acreditou na mentira e
trouxe condenação (morte), a todos os homens.
Por causa do evento no
Éden, a serpente tornou-se símbolo de Satanás "E
foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás,
que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram
lançados com ele" ( Ap 12:9
).
A serpente é um símbolo
de Satanás, e o veneno símbolo da mensagem de engano. A mensagem de engano é
comparável ao veneno de víboras, trás morte e morte eterna.
Há várias referências
nas Escrituras às serpentes, e uma destas figuras encontra-se no Livro de
Deuteronômio. O profeta Moisés, em sua última profecia (cântico profético,
salmo), previu que o povo de Israel (vinha) haveria de desviar-se da palavra de
Deus e que produziriam veneno em lugar de vinho ( Dt 31:20 ).
Através da previsão dada
a Moisés, Deus estava destilando a sua doutrina, a sua palavra. A palavra é
comparada ao orvalho que cai sobre a relva, de modo que a palavra é figura de vida
( Dt 32:47 ), e a relva figura dos homens "Porque
Toda a carne é como a erva, E toda a glória do homem como a flor da erva.
Secou-se a erva, e caiu a sua flor" (
1Pe 1:24 ).
Este salmo de Moisés
possui inúmeras figuras aplicadas ao povo de Israel que, ao longo da história
foram utilizadas pelos profetas, Cristo e os apóstolos. Dentre as figuras que
Moisés apresenta, temos: povo louco, ignorante, néscios ( Dt 32:6 ); cidade
prostituta ( Dt 32:16 ); povo (vinha) de Sodoma e Gomorra ( Dt 32:32 ); o vinho
que produzem é ardente veneno de serpentes, peçonha cruel de víboras ( Dt 32:33
).
Por diversas vezes ecoam
nas Escrituras através dos profetas, Jesus e os apóstolos o rótulo que Moisés
estabeleceu contra Israel: o povo de Israel não passava de loucos, néscios,
pessoas faltas de entendimento ( Sl 53:1 -4; Jr 5:4 ; Ez 13:13 ; Is 35:8 ; Lc
11:40 ; Lc 24:25 ; Rm 2:20 ; Rm 10:2 ). Por diversas vezes são chamados de raça
de víboras ( Mt 3:7 ; Mt 23:33 ; Sl 140:3 ); Igualmente são chamados de
adúlteros e adulteras ( Tg 4:4 ; Jr 9:2 ); etc.
Mas, a figura que nos
debruçaremos agora é a da víbora, a da serpente. Moisés aponta que o povo de
Israel é vinha de Sodoma e Gomorra, porém, o vinho que produziam era
equivalente à peçonha de serpentes "O
seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras" ( Dt 32:33 ); "Ouvi a palavra do SENHOR, vós
poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra" ( Is 1:10 ).
O salmista demonstra que
os filhos de Jacó possuíam língua como a serpente. Que o veneno do engano, que
é a mentira, estava nos lábios do povo de Israel. O que falavam era semelhante
ao veneno da serpente: produz morte, e não vida "Aguçaram as línguas como a
serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. (Selá.)" ( Sl 140:3 );"O seu veneno é
semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda, que tapa os
ouvidos" ( Sl 58:4 ).
Ao falar ao povo, o
profeta Isaias disse: “Chocam
ovos de basilisco, e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles,
morrerá; e, quebrando-os, sairá uma víbora” (
Is 59:5 ). O profeta acusa os filhos de Israel de falarem falsidades, e que a
palavra do engano, a mentira, estava em suas bocas.
Falar mentiras é o mesmo
que chocar ovos da serpente. Neste contexto ‘mentira’ é uma figura de linguagem
para falar da palavra de engano, falso evangelho, e não do mau hábito de faltar
com a verdade, mentir. Quem come dos ovos, além de mortos, torna-se duas vezes
filhos do inferno. Tornam-se filhos do inferno porque quebraram os ovos e deles
se alimentaram. Além de estarem mortos, tornam-se víboras. A morte neste verso
refere-se à separação de Deus, alienação.
Qualquer que professa a
doutrina do engano é uma víbora, uma serpente, de modo que Jesus e João Batista
não estavam xingando os escribas e fariseus ao chamá-los de raça de
víboras.
O apóstolo Paulo alerta
os cristãos a se absterem do ‘vinho da contenda’, e deviam se encher do
espírito. Muitos entendem que o apóstolo estava vetando aos cristãos o beber
bebida forte, porém, se o apóstolo Paulo estivesse recomendando os cristãos a
se absterem do produto da vide, não teria recomendado Timóteo a fazer uso de
vinho.
O que se depreende da
ordem paulina é que os cristãos deveriam se encher do espírito, ou seja, do
evangelho, pois deste modo jamais beberiam do vinho da contenda, ou,da doutrina
dos judaizantes "E não vos
embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito" ( Ef 5:18 ); "Como não compreendestes que não
vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e
saduceus?" ( Mt 16:11
).
É em função do alerta
anterior que se chega à interpretação que acabamos de fazer. Quando o apostolo
Paulo diz:“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como
sábios”, está recomendando que os
cristãos não andem como os judeus, os loucos, os néscios, que sempre erraram o
caminho. Que não sejam insensatos ( Gl 3:1 ), voltando a se aplicarem a
elementos da lei, antes, que entendam qual é a vontade de Deus ( Ef 5:15
-17).
Esta análise nos mostra
que, algumas vezes, quando a bíblia faz referência à serpente, não faz
referência a Satanás, mas aos homens que, por anunciar uma doutrina de mentira,
destilam veneno mortal como as víboras. Por destilarem peçonha, a figura da
serpente é própria para descrevê-los. Daí o rótulo: raça de víboras!
Poder para pisar serpentes e
escorpiões
Após averiguar a
exposição acima, é possível responder as perguntas: a) que poder é concedido
aos cristãos? b) Quais os tipos de serpentes e escorpiões os cristãos tem
autonomia de calcar os pés?
A prerrogativa de calcar
a antiga serpente com os pés é de Jesus, e Ele não passou aos seus seguidores
tal prerrogativa, antes é dito: "E
o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de
nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém" ( Rm 16:20 ); "Pisarás o leão e a cobra;
calcarás aos pés o filho do leão e a serpente" ( Sl 91:13 ). É Cristo, o príncipe da
paz, que esmagará Satanás em breve debaixo dos pés dos seus seguidores.
Por que debaixo dos pés
dos cristãos? Porque os cristãos são o corpo de Cristo. Cristo é a cabeça, e a
igreja o corpo, de modo que é Cristo, a cabeça, que esmagará debaixo da igreja
a antiga serpente que feriu o calcanhar da semente da mulher ( Gn 3:15 ).
O texto não diz que os
cristãos receberam poder para pisar Satanás, antes diz que é dado poder para
pisar ‘víboras’ e ‘escorpiões’.
Em primeiro lugar, tal
poder não diz de uma capacidade especial para pisar em animais peçonhentos que
há na natureza, ou seja, Jesus não autorizou os seus seguidores a pisarem
deliberadamente qualquer animal peçonhento. Tal atitude é tentar a Deus.
Qualquer que usar o
texto: “Eis que vos dou poder...” para afirmar que foi dado poder aos
seguidores de Cristo para submeter animais peçonhentos, cumpre o mesmo papel de
Satanás quando tentou o Senhor Jesus utilizando as Escrituras fora do seu
contexto “E disse-lhe: Se tu és o
Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos
dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em
alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu
Deus” ( Mt 4:6 -7).
Ao ler este verso,
muitos cristãos entendem que Cristo estava lhes outorgando autoridade para
sobrepujar os demônios, e outros, que Jesus concedeu poderes inimagináveis aos
seus discípulos para efetuar toda sorte de sinais miraculosos.
Mas então o que Jesus
concedeu aos seus seguidores? Eles foram capacitados a pisar toda sorte
de animais peçonhentos? Em função desta benesse os cristãos possuem poderes
especiais de modo que nada pode lhe causar dano físico?
Para responder tais
questões, temos que reler o evento em que Jesus enviou seus setenta discípulos
às cidades que ficavam aos arredores de Jerusalém.
Antes de enviar os
setenta discípulos às cidades nos arredores de Jerusalém para evangelizá-las,
Jesus fez um lamento sobre as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, e
apresentou alguns parâmetros que nos possibilita dimensionar a incredulidade
dos habitantes daquelas cidades judaicas.
Jesus demonstra que os
milagres que foram realizados por Ele em Corazim eram mais que suficientes para
mudar a concepção dos habitantes das cidades gentílicas de Tiro e Sidom.
Se os habitantes de Tiro e Sidom tivessem visto os milagres de Jesus, se
humilhariam e mudariam a concepção deles (arrependimento).
Ao enviar seus
discípulos, Jesus conscientiza-os de que não havia diferença alguma entre Ele e
os seus discípulos com relação à missão que passariam a desempenhar. Caso os
habitantes das cidades ouvissem os discípulos de Jesus, estariam ouvindo as
palavras de Cristo. De igual modo, caso rejeitassem os discípulos por causa da
missão evangelística, estariam rejeitando a mensagem e a pessoa de Cristo ( Lc
10:16 ). E, quem rejeita a Cristo, rejeita igualmente ao Pai.
O evangelista Lucas, no
verso 17, do capítulo 10, narra qual foi o comportamento dos discípulos após
percorrem as cidades evangelizando: “E
voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os
demônios se nos sujeitam” ( Lc
10:17 ).
Foi quando Jesus disse
em tom de aviso: “Eu via Satanás,
como raio, cair dos céus” ( Lc
10:18 ). Ora, Satanás caiu por se envaidecer pela missão que lhe foi outorgada
(querubim da guarda ungido), e deixou de considerar que a glória pertence a
quem O comissionou.
Os discípulos corriam o
risco de se envaidecerem em função de os demônios submeterem a eles, e logo
foram advertidos. O apóstolo Paulo também alerta quanto a este risco: "Não neófito, para que,
ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo" ( 1Tm 3:6 ).
Daí o alerta: “Eis que vos dou poder...” (v. 19). Naquele momento Jesus não
estava concedendo ‘poder’, antes estava alertando que era Ele quem outorgava
poder. Esta era a promessa de Jesus: “Se
me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” ( Jo 14:14 ). Tudo que o cristão pede
é realizado por Cristo com o objetivo de que o Pai seja glorificado no Filho.
Observe que é Cristo quem realiza tudo o que o crente pede, e não que tudo o
que o crente pede será atendido.
O motivo da alegria deve
centrar-se em Cristo, pois Ele é o poder. A consciência do cristão deve
repousar na seguinte premissa: "Grandes
coisas fez o SENHOR por nós, pelas quais estamos alegres" ( Sl 126:3 ).
Alegrar-se em Cristo é
força, poder, salvação, por outro lado, alegrar-se porque os demônios se
submetem, há risco. Por quê? Porque Satanás é enganador e estrategista. Satanás
pode fingir submeter-se aos homens com o objetivo de conduzi-lo ao erro, ao
engano.
A estratégia do diabo
pode ser analisada logo no inicio do ministério de Jesus. Quando Jesus chegava
a certas cidades, pessoas possessas confessavam: - Bem sei quem és: o Santo de
Deus “E também de muitos saíam
demônios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele,
repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo” ( Lc 4:41 ; Mc 1:24 ).
Um incauto tomaria por
base tal confissão para alavancar o seu ministério. Não é isto que muitos
líderes religiosos fazem em nossos dias? Diante das multidões invocam
testemunho dos demônios, que dizem: - Este é homem de Deus! – Está é uma igreja
de Deus! E após tais manifestações, os demônios submetem-se ao orador. Seria
este o testemunho que um servo de Deus deve acatar?
O primeiro a ser
enganado com tal estratégia é o líder religioso, que vem a acreditar piamente
que é um homem cheio de poder e que as suas realizações ‘miraculosas’
demonstram que é agradável a Deus. Em segundo lugar, os seus seguidores, que
são induzidos a acreditar que expulsar ou falar com demônios é ter poder.
O apóstolo Paulo, assim
como Cristo, foi denunciado por um espírito imundo que estava sobre uma jovem
advinha:“Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que
nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto ela
fez por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em
nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu” ( At 16:17 -18). Caso o apóstolo Paulo
fizesse uso de tais declarações para balizar o seu ministério, grande seria a
ruína.
Geralmente as pessoas
relacionam esta passagem “Eis que
vos dou poder...”, só com a
virtude de operar sinais, prodígios e maravilhas, porém, antes de Jesus dizer
tais palavras, já no verso 9, antes dos setenta saírem a campo, Jesus ordenou
que os setenta curassem os enfermos que houvesse nas cidades e anunciassem a
chegada do reino dos céus “E
curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de
Deus” ( Lc 10:19 ).
Ora, se os discípulos
foram orientados a curarem os enfermos antes de partirem na missão
evangelística, segue-se que o que é concedido no verso 19 não só diz da
‘virtude’ de operar milagres e maravilhas, pois quando foram comissionados, já
estavam de posse de tal ‘virtude’.
De igual modo, o
revestimento de poder concedido no dia de pentecostes não se refere à operação
de sinais e prodígios, pois muito antes, Jesus já havia dado poder aos seus
discípulos para, ao entrarem nas cidades, e curassem os enfermos e anunciasse a
Cristo.
Esta passagem bíblia
aponta uma tendência natural do homem em atribuir ênfase maior aos sinais, deixando
em segundo plano a mensagem de salvação, que é a obra realizada pelo Pai ( Jo
14:10 ). Supervalorizam os sinais e esquecem que só há festa no céu quando o
pecador se arrepende ( Lc 15:10 ).
Leia atentamente estes
versos: “Não crês tu que eu estou
no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim
mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no
Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na
verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que
eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” ( Jo 14:10 -12 ).
As palavras de Cristo
era o mandamento do Pai. Na antiguidade era consenso: ‘só
há obra quando há mando de um lado, e obediência do outro”, um senhor determinava, e o servo
realizava a obra, porém, a obra não pertencia ao servo, e sim, ao senhor que
determinou.
Por que é o Pai que faz
a obra? Porque o mandamento é d’Ele! Como o mandamento de Cristo era o
mandamento do Pai, ambos, Pai e Filho estavam unidos. Daí vem o ponto chave:
aquele que crê em Cristo também faz as obras que Cristo fez, e faz maiores que
aquelas que os discípulos estavam vendo.
Que obras seriam estas?
A mesma que o Pai fazia juntamente com o Filho: "Jesus respondeu, e disse-lhes: A
obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou" ( Jo 6:29 ). Observe que a essência da
obra não está em realizar ações miraculosas, antes em que as pessoas creiam que
Cristo é o Filho de Deus.
O poder que lhes fora
concedido era para suplantar toda a força do inimigo. E que força maligna é
esta? As serpentes e os escorpiões que propagam a doutrina de engano. O poder
que há no evangelho serve de armadura para que o cristão possa combater nas
regiões celestiais as hostes da maldade. Somente revestido de toda a armadura
de Deus é possível resistir ao diabo.
Ora, quando a bíblia diz
para resistirmos ao diabo, diz para resistirmos aos ensinamentos dos seus
adeptos, homens réprobos quando ao conhecimento da verdade "Respondeu-lhe Jesus: Não vos
escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo" ( Jo 6:70 ), diz dos filhos do diabo,
homens que procuram desviar da fé os que creem "Disse: Ó filho do diabo, cheio
de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás
de perturbar os retos caminhos do Senhor?" ( At 13:10 ).
Quando o discípulo Pedro
aconselha Jesus a ter pena de si mesmo, Jesus disse: "Para trás de mim, Satanás, que
me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas
só as que são dos homens" (
Mt 16:23 ), de modo que qualquer que não compreende as coisas de Deus e se
propõe a aconselhar ou a ensinar, é comparável a um diabo.
É dado aos cristãos
‘poder’ para suplantar todos aqueles que destilam veneno com as suas línguas,
de modo que nada proveniente deles causará dano aos servos de Deus. Tendo por
escudo a palavra da fé, nenhum dardo do inimigo atingirá o crente revestido da
armadura de Deus, fortalecido na força do seu poder “Tomando sobretudo o escudo da fé, com
o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” ( Ef 6:16 ).
O poder contido no
evangelho torna o cristão poderoso para admoestar e convencer os contradizentes “Retendo firme a fiel palavra, que é
conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã
doutrina, como para convencer os contradizentes. Porque há muitos desordenados,
faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais
convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não
convém, por torpe ganância” ( Tt
1:9 -11).
Operar sinais, prodígios
e maravilhas não é o mesmo que pisar serpentes e escorpiões. Curar aleijados,
cegos, etc., não é o mesmo que pisar serpentes e escorpiões. Jesus veio
desfazer as obras do diabo, de modo que o poder que é dado refere-se a
transportar os homens das trevas para o reino da luz.
Anunciar o Cristo é o
poder concedido aos que creem “E
curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de
Deus” ( Lc 10:19 ). É poder que
promove as obras que Jesus fez “Na
verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que
eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” ( Jo 14:12 ).
Sabendo que a obra que
Jesus veio realizar é: "A
obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou" ( Jo 6:29 ), no evangelho há poder
para salvar o mundo todo. Os homens nascidos de novo são obras de Deus "Não destruas por causa da comida
a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come
com escândalo" ( Rm 14:20 ).
A igreja de Cristo
também possui autoridade para curar e realizar milagres ( Mc 16:15-20), mas
este não é o mote do evangelho. A proposta do evangelho é mais abrangente, pois
por Cristo é possível o crente ‘vencer reinos, praticar a justiça, alcançar as
promessas, fechar as bocas dos leões, apagar a força do fogo, escapar do fio da
espada, da fraqueza tirar forças, na batalha se esforçar, por em fuga os
exércitos dos estranhos e receber pela ressurreição os seus mortos’, porém, o
mesmo Cristo torna possível ser torturado, não aceitar o seu livramento para
alcançar uma melhor ressurreição, experimentar escárnios e açoites, e até
cadeias e prisões, ser apedrejado, serrado, tentado, mortos ao fio da espada,
andar vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparado, aflito e
maltratado ( Hb 11:33 – 40).
É dado aos que creem
poder de serem livres da peçonha de uma serpente, mas também é dado poder para
suportar afrontas e açoites, e passar uma vida na prisão por causa da verdade
do evangelho, como foi o caso do apóstolo Paulo.
Certamente Cristo
estabeleceu que os seus servos realizarão maiores obras, trabalhos, ações,
atos, pois a ceara é grande, e há poucos ceifeiros. Quem opera sinais e
maravilhas está inclusos nesta obra, porém, não é este o objetivo do evangelho.
Não é esta a bem-aventurança! ( Jo 20:29 )
Qualquer que ouve uma
mensagem ou vê um milagre, deve ter o cuidado de primeiro provar o ‘espírito’,
pois fenômenos “extraordinários”, muitas vezes, não são passíveis de análise,
mas a mensagem sempre é passível de análise àqueles que tem o Espírito de Deus
( Dt 13:1-4 ; 2Ts 2:9 ; Mt 7:21 -23).
Um cristão deve estar
cônscio de que os falsos profetas operarão sinais de mentira "A esse cuja vinda é segundo a
eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira" ( 2Ts 2:9 ). Um cristão jamais deve
esquecer que os falsos profetas tem aparência de ovelha, e que só os seus
frutos possibilita identificá-los ( Mt 7:20 ). E quais são os frutos? O
espírito, a mensagem que professam.
O cristão não deve ficar
maravilhado, extasiado, perplexo frente a um milagre. Um cristão tem o
discernimento que sinais são para os incrédulos, enquanto que a palavra, a
profecia, o espírito, o poder de Deus é para os fiéis "De sorte que as línguas são um
sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os
infiéis, mas para os fiéis" (
1Co 14:22 ).
Quem se maravilhava
diante de um sinal são os infiéis, e isso ao longo dos tempos não muda. Mas, os
que creem, tem o mesmo discernimento que o apóstolo Pedro: sempre apresentará
ao povo o Cristo crucificado, e não os milagres “E quando Pedro viu isto, disse ao
povo: Homens israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais
tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar
este homem? O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais,
glorificou a seu filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de
Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto” ( At 3:12 -13)...
Apóstolo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante
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