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terça-feira, 15 de março de 2016

ESPÍRITOS IMUNDOS...


                                                 ESPÍRITOS IMUNDOS...
Os demônios estão estreitamente relacionados com as enfermidades e anormalidades físicas e mentais das pessoas; De fato aparecem como causas de surdez, mudez, cegueira, epilepsia e loucura, enfermidades que não tinham causa aparente para as pessoas há 2000 anos e que por isso eram muito misteriosas. Quando Jesus lança fora um demônio é dito que a pessoa ficou curada, a mesma linguagem que se usa para as enfermidades. Em Marcos 5:15 se diz que o endemoninhado gadareno ficou “em perfeito juízo”, linguagem esta que se usa para a cura em casos de loucura. Não se distingue claramente entre as enfermidades comuns e correntes e as provocadas pelos demônios. 

Por exemplo, em Marcos 7:31-37, não se menciona a intervenção de nenhum demônio no caso do que era surdo e gago. No caso da cura da filha endemoninhada da mulher Cananéia, Mateus 15:28 diz simplesmente que “desde aquela hora sua filha ficou sã”, a mesma linguagem que se utilizaria para qualquer enfermidade. Segundo o Evangelho de João, os judeus em 4 ocasiões mencionam sobre Jesus, dizendo assim: “Tem demônio”. (João 7:20; 8:48,52; 10:20). Esta era simplesmente sua maneira de dizer que Jesus era “louco”. Fora destas passagens, os demônios não aparecem neste Evangelho.

A bíblia em nenhuma parte oferece uma explicação de qual seria a origem dos demônios, e se são seres viventes. Hoje em dia se conhecem as causas da maioria dos casos de enfermidades atribuídas aos demônios. Sabe-se que freqüentemente as crianças ficam mudas porque são surdas; Como não escutam nenhum idioma, tampouco o aprendem. Muitas vezes esta surdez pode ser curada se descoberta a tempo e a criança começa a aprender a falar se é suficientemente pequena.

Igualmente, muitos casos de cegueira se devem a um problema do nervo ótico e se detectado e reparado oportunamente, a criança cega passa a enxergar. Hoje em dia também, a maior parte dos casos de epilepsia se controla por meio de remédios e há tratamentos eficazes para vários tipos de loucuras e transtornos emocionais. Supõe-se que se estes fenômenos realmente fossem provocados por poderosos demônios, haveriam casos omissos da medicina e da cirurgia. Então, a pergunta é: Onde estão os demônios hoje em dia? Por que as enfermidades atribuídas a eles na antiguidade podem agora ser analisadas e em muitos casos curadas por meios físicos? Alguns anos atrás li um comentário interessante acerca das bruxas feito por um sociólogo que havia estudado o fenômeno e disse assim: “As bruxas manifestam-se entre as pessoas que crêem nelas”. O mesmo se pode dizer acerca dos demônios.

Quando as escrituras dizem que os demônios falam, na realidade é a pessoa supostamente possuída pelo demônio que está falando; Por isso os demônios mudos não falam (Lucas 11:14). Supõe-se que um demônio não teria que ser mudo para provocar a mudez, sendo assim, por que não falam os demônios mudos? E quando se diz em Marcos 3:11 que “os espíritos imundos vendo-o, se prostravam diante dele e clamavam”, evidentemente quem se prostravam e clamavam eram as pessoas enfermas que sentiam o poder sobrenatural que emanava de Jesus.Quando o Senhor Jesus cura a sogra de Pedro em Lucas 4:39, é nos dito que Jesus “repreendeu a febre e esta a deixou”, como se tratasse de alguma espécie de pessoa. Porém, para onde vai uma febre, quando esta deixa uma pessoa?

Em Lucas 8:24,25, Jesus “repreendeu o vento e a fúria da água” e cessaram. Acaso isto significa que o vento e as ondas são seres viventes que podem escutar e obedecer às repreensões?As pessoas que crêem na existência real dos demônios diferem muito entre si sobre qual seria a origem deles. Algumas sustentam que são espíritos de mortos, porém sabemos que biblicamente os mortos estão inconscientes e de qualquer forma, por que aos espíritos dos mortos lhes interessaria provocar enfermidades entre o povo Galileu nos tempos de Jesus?

Outros sustentam que os demônios são os anjos que apoiaram Lúcifer em sua suposta rebelião contra o Todo-Poderoso e que se converteram em seus sequazes quando foram expulsos do céu. Porém a bíblia não registra tal rebelião e ainda que fosse certo, posto que o suposto objetivo de Lúcifer seja induzir as pessoas ao pecado, por que estes servos não se dedicam a esta tarefa, ao invés de provocar enfermidades entre o povo, pois é algo muito diferente? Incluindo algumas pessoas afetadas pelos demônios reconheciam a Messianidade de Jesus, o que seria totalmente oposto ao objetivo de lúcifer se de fato existisse. E estas pessoas não eram consideradas pecaminosas.

Os historiadores ensinam que a crença nos demônios tem sua origem nas crenças populares dos povos que circundavam Israel e que os judeus foram particularmente expostos a estas superstições a partir do exílio babilônico no 6º século a.E.C. Durante o chamado período intertestamentário, a idéia alcançou credibilidade a nível de crença popular entre os camponeses galileus, que eram menos sofisticados que os judeus da região de Jerusalém. 

Jesus cria que a questão a que se deviam realmente as enfermidades não era muito importante e que o mais essencial era demonstrar que Ele gozava do poder Divino para curar toda a enfermidade, seja qual fosse sua causa. De qualquer forma, como Jesus faria para explicar a estes camponeses, que certas enfermidades são causadas por defeitos genéticos ou, por exemplo, a alguns camponeses do século XXI, que certas enfermidades são causadas por micróbios, etc.? A existência dos micróbios como causas de infecções só foram descobertas no século XIX, há menos de 150 anos. Ele só haveria convencido as pessoas de que era louco. De qualquer forma, aos demônios não lhes é atribuído papel religioso ou teológico algum, para que fosse necessário que Jesus desvirtuasse sua existência real como seres literais.

Por que deduzimos que os demônios simplesmente são enfermidades, quaisquer que sejam suas causas? Porque um “demônio mudo” é a própria mudez. Um “demônio cego” é a própria cegueira. Por isso que os endemoninhados se incluíam entre os grupos de pessoas enfermas que se apresentavam a Jesus para serem curadas. Em Mateus 8:16 é mencionado que Jesus curou tanto a enfermos como a endemoninhados, porém a citação de Isaías 53:4 que aparece no v. 17, só mencionam as enfermidades e doenças.

O caso do endemoninhado gadareno era uma manifestação de uma enfermidade mental que hoje em dia pode ser chamada de “múltiplas personalidades” e que foi tratada em obras recentes como “as 3 faces de Eva”. Outra maneira bíblica de expressar esta ideia seria dizer que os demônios são “espíritos de enfermidades”, entendendo-se que a palavra “espírito” (literalmente vento) designa qualquer classe de influencia poderosa, porém invisível, como o vento, seja boa ou má. (Isaías 11:2).

Não esqueçamos que o “espírito mau” que atormentava Saul vinha de Deus, não do diabo. A frase simplesmente significa que o poder de Deus atuou em Saul para transtornar suas emoções e suas razões. Uma enfermidade sem causa aparente era uma espécie de “espírito” e na antiguidade as pessoas freqüentemente personificavam os diferentes “espíritos” ou influências cuja origem era invisível. Os demônios são a personificação dos espíritos de enfermidades (ver Lucas 13:11). Aparecem no texto bíblico como uma espécie de superstição superficial de alguns judeus do mundo antigo, em que muitos fenômenos que para nós são explicáveis, para eles eram muito misteriosos.

No caso do jovem epilético, nos é dito em Mateus 17:15 que ele era “lunático”. Esta palavra literalmente significa “afetado pela lua”, porque antigamente se acreditava que a lua causava a loucura. Nós seguimos utilizando o termo hoje em dia, porém ninguém o toma literalmente, nem se preocupa pelo fato de estar dizendo algo literalmente falso. Este termo veio a se tornar parte do idioma, da mesma maneira que falar dos demônios como causas de enfermidades era parte da linguagem dos contemporâneos de Jesus.

Da mesma forma a bíblia fala freqüentemente acerca dos deuses pagãos como se tivessem existência real: Em Marcos 3:22 Jesus parece admitir a existência de Belzebu sem que nós suponhamos que Ele realmente acreditasse neste deus dos filisteus (2 Reis 1:2,3,6). E em 2 Corintios 6:15 Paulo fala de Belial como se fosse um personagem real...
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.


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