RUTE
UMA AMIGA FIEL...
O livro de
Rute é um escrito, em forma de história, composto em prosa narrativa, que
procura descrever a situação concreta do povo pobre que estava vivendo sob o
jugo do Império Persa. O livro começa dizendo que “ no tempo dos Juizes” (Rt
1,1) houve um período de muita fome e nesse contexto conta a história de uma
família, na qual Rute se agrega. O livro de Rute foi escrito no pós-exílio
babilônico e retrata a situação do pobre que era marginalizado, excluído,
sofredor… Neste sentido, quando se reporta à época dos Juizes, quer-se
principalmente fazer memória do projeto igualitário, onde todos tinham acesso à
terra, ao pão e a vivência da fraternidade que permitia às pessoas serem
felizes com suas famílias (Dt 6,10-13; Js 24,13).
A família de que fala o texto morava em Belém (Rt 1,1), que significa “casa do pão”. Mas a realidade era o oposto do nome. Se não havia pão, deveria ter algum motivo para isso. Aí se refletem as causas que geram a fome do povo, ou seja, a estrutura injusta da época que não permitia que o povo tivesse o necessário para sobreviver.
A família de que fala o texto morava em Belém (Rt 1,1), que significa “casa do pão”. Mas a realidade era o oposto do nome. Se não havia pão, deveria ter algum motivo para isso. Aí se refletem as causas que geram a fome do povo, ou seja, a estrutura injusta da época que não permitia que o povo tivesse o necessário para sobreviver.
ESTRUTURA
DO TEXTO
O autor procura descrever esta história seguindo quatro passos que procuram visualizar os princípios que devem reger a constituição da comunidade judaica.
A. O primeiro passo (cap. 1), retrata o retorno à patria. Noemi, sendo judia, retorna à terra de Israel, acompanhada de Rute, mulher Moabita. O personagem Rute, neste contexto, significa a superação da procedência racial em torno dos critérios religiosos, pois ela também acredita no Deus de Israel.
B. O segundo passo (Cap. 2), apresenta Rute no campo de Booz. Este capítulo representa a necessidade de resgatar os direitos dos pobres e sensibilizar a sociedade em torno das desigualdades. É uma maneira de exigir a aplicação da lei social de Israel em favor dos pobres.
C. A terceira parte (cap.3), descreve o encontro na eira com a intenção de abordar o problema dos casamentos mistos e propor a solução por meio da integração racial através da profissão de fé no mesmo Deus de Israel. Esdras e Neemias, representantes da teologia oficial, haviam apresentado propostas diversas a intenção deste capítulo. Esdras pregava que o sofrimento do povo era castigo de Deus por terem casado com mulheres estrangeira e terem aceitado alguns costumes pagãos. Por isso, propunha que expulsasse as mulheres e o filhos que haviam tido com as estrangeiras, bem como, exigia melhor observância da lei de Deus. Pretendia organizar o povo em torno da observância da lei, da pureza da raça e do templo. Neemias justificava a pobreza, o sofrimento, a dor e toda a situação de marginalização alegando a ausência dos muros. Por isso, lançou sobre o povo um pesado jugo em forma de tributos e contribuições para executar a construção dos muros. Ambas as propostas eram sustentadas pela teologia da pureza e da retribuição. Rute representa o profetismo popular, rompe com o código da pureza e com a teologia da retribuição, procurando refazer a vida através da superação da fome. “O livro de Rute é uma contestação ao projeto de Esdras e Neemias que reflete uma vontade meramente urbana e do templo”.
D. A quarta parte (cap. 4), questiona o casamento e a descendência, tratando do direito matrimonial na aplicação combinada de duas instituições: o costume do levirato e a lei do resgate. O casamento e o nascimento do menino representam a continuidade da descendência e a garantia de vida. “As mulheres na Bíblia sempre apareceram protagonizando momentos chaves na história israelita ou como restauradoras em momentos limites de decisão (ver cap 4,11)”.
O autor procura descrever esta história seguindo quatro passos que procuram visualizar os princípios que devem reger a constituição da comunidade judaica.
A. O primeiro passo (cap. 1), retrata o retorno à patria. Noemi, sendo judia, retorna à terra de Israel, acompanhada de Rute, mulher Moabita. O personagem Rute, neste contexto, significa a superação da procedência racial em torno dos critérios religiosos, pois ela também acredita no Deus de Israel.
B. O segundo passo (Cap. 2), apresenta Rute no campo de Booz. Este capítulo representa a necessidade de resgatar os direitos dos pobres e sensibilizar a sociedade em torno das desigualdades. É uma maneira de exigir a aplicação da lei social de Israel em favor dos pobres.
C. A terceira parte (cap.3), descreve o encontro na eira com a intenção de abordar o problema dos casamentos mistos e propor a solução por meio da integração racial através da profissão de fé no mesmo Deus de Israel. Esdras e Neemias, representantes da teologia oficial, haviam apresentado propostas diversas a intenção deste capítulo. Esdras pregava que o sofrimento do povo era castigo de Deus por terem casado com mulheres estrangeira e terem aceitado alguns costumes pagãos. Por isso, propunha que expulsasse as mulheres e o filhos que haviam tido com as estrangeiras, bem como, exigia melhor observância da lei de Deus. Pretendia organizar o povo em torno da observância da lei, da pureza da raça e do templo. Neemias justificava a pobreza, o sofrimento, a dor e toda a situação de marginalização alegando a ausência dos muros. Por isso, lançou sobre o povo um pesado jugo em forma de tributos e contribuições para executar a construção dos muros. Ambas as propostas eram sustentadas pela teologia da pureza e da retribuição. Rute representa o profetismo popular, rompe com o código da pureza e com a teologia da retribuição, procurando refazer a vida através da superação da fome. “O livro de Rute é uma contestação ao projeto de Esdras e Neemias que reflete uma vontade meramente urbana e do templo”.
D. A quarta parte (cap. 4), questiona o casamento e a descendência, tratando do direito matrimonial na aplicação combinada de duas instituições: o costume do levirato e a lei do resgate. O casamento e o nascimento do menino representam a continuidade da descendência e a garantia de vida. “As mulheres na Bíblia sempre apareceram protagonizando momentos chaves na história israelita ou como restauradoras em momentos limites de decisão (ver cap 4,11)”.
O
SIGNIFICADO DOS NOMES
Os nomes dos personagens do livro não foram colocados por acaso, mas cada um deles tem por trás um significado profundo, que retratava a situação do povo na época (Rt 1,2) Quando se disse que o pai chamava-se Elimelec (“meu Deus é rei”), lembrava-se a profissão de fé do povo no tempo dos Juizes, onde Javé os governava. Com a monarquia e no pós-exílio o rei (Deus) já não podia mais governar… Noemi e Mara, que são os nomes dados à mãe significam, respectivamente, graça e amargura, ou seja, a vida do povo perdeu a graça e encheu-se de amargura. Os filhos Maalon e Quelion, respectivamente, significam doença e fragilidade, retratam a situação do povo doente e frágil, fruto da injustiça dos governantes, que os impedia a ter a terra e o pão. Os nomes das noras Orfa (nuca) e Rute (amiga fiel) mostram que uma (Orfa) volta as costas e a outra(Rute) é a companheira inseparável, que em nome de Javé, luta até o fim pela dignidade do povo explorado, para restituir-lhe o direito à terra, pão e família. Booz (força), lembra os Juizes que libertavam o povo nos momentos de dificuldades e crises (Jz 2,18). E por fim, Obed (servo), que representou a vinda do novo Davi, não como dominador mas servo, para que “todos tivessem vida…”(Rt 4,17).
Os nomes dos personagens do livro não foram colocados por acaso, mas cada um deles tem por trás um significado profundo, que retratava a situação do povo na época (Rt 1,2) Quando se disse que o pai chamava-se Elimelec (“meu Deus é rei”), lembrava-se a profissão de fé do povo no tempo dos Juizes, onde Javé os governava. Com a monarquia e no pós-exílio o rei (Deus) já não podia mais governar… Noemi e Mara, que são os nomes dados à mãe significam, respectivamente, graça e amargura, ou seja, a vida do povo perdeu a graça e encheu-se de amargura. Os filhos Maalon e Quelion, respectivamente, significam doença e fragilidade, retratam a situação do povo doente e frágil, fruto da injustiça dos governantes, que os impedia a ter a terra e o pão. Os nomes das noras Orfa (nuca) e Rute (amiga fiel) mostram que uma (Orfa) volta as costas e a outra(Rute) é a companheira inseparável, que em nome de Javé, luta até o fim pela dignidade do povo explorado, para restituir-lhe o direito à terra, pão e família. Booz (força), lembra os Juizes que libertavam o povo nos momentos de dificuldades e crises (Jz 2,18). E por fim, Obed (servo), que representou a vinda do novo Davi, não como dominador mas servo, para que “todos tivessem vida…”(Rt 4,17).
O DIREITO
DO RESGATE
O livro de Rute retrata a situação dos pobres na época do domínio persa, representado pelo governador de Judá, especialmente Neemias, que apoiava os sacerdotes e escribas (Esdras) na criação do Judaísmo, que teve como base a lei do puro e do impuro. Essa realidade, acompanhada com altas taxas de impostos cobradas pelo Império, via Templo, empobrecia e marginalizava o povo, provocando fome, escravidão, perda de suas terras, doença.
Na Lei do povo de Israel (Pentateuco), segundo a qual todos os fiéis a Javé deviam andar, existia a norma da “respiga”, que era um direito do órfão, do estrangeiro e da viúva (Dt 24,18-22). Havia também a “lei do levirato”, segundo a qual a viúva sem filho do sexo masculino deveria ser desposada pelo cunhado (Dt 25,5). A “lei do Resgate da terra” (Dt 25,5-10) permitia a continuação do nome da família e o direito de permanecer na terra. Essas três leis na época do tribalismo serviam de garantia para que todos tivessem acesso à terra, ao pão e a continuidade da família. Mas no pós-exílio, no domínio persa, essas leis não eram mais cumpridas e o povo não conseguia mais sair de sua miséria.
Rute ao chegar nos campos de Moab foi logo em busca de comida, esta era a necessidade imediata para elas. O segundo passo de Rute e Noemi, ao encontrar Booz, foi investigar sobre a possibilidade do resgate, isto representa segurança e proporciona “bem-estar parcial ao lado do parente longínquo”. Para conseguir realizar o segundo passo, Rute aconselhada por Noemi, executa o terceiro passo que refere-se ao contato direto com Booz. Este contato demonstra a aproximação entre “Deus e a terra”, produzindo a teologia da valorização do corpo, que por sinal ia contra a teologia oficial (Esdras e Neemias). Este processo tem como síntese as conquistas das mulheres frente ao patriarcalismo, pois, o resgate a lei do levirato, através da realização do casamento e o nascimento do menino, aconteceu na porta da cidade diante dos anciões. A porta da cidade era um local específico dos homens, um espaço masculino onde se tomavam as grandes decisões política, econômica, social, cultural e religiosa.
O livro de Rute retrata a situação dos pobres na época do domínio persa, representado pelo governador de Judá, especialmente Neemias, que apoiava os sacerdotes e escribas (Esdras) na criação do Judaísmo, que teve como base a lei do puro e do impuro. Essa realidade, acompanhada com altas taxas de impostos cobradas pelo Império, via Templo, empobrecia e marginalizava o povo, provocando fome, escravidão, perda de suas terras, doença.
Na Lei do povo de Israel (Pentateuco), segundo a qual todos os fiéis a Javé deviam andar, existia a norma da “respiga”, que era um direito do órfão, do estrangeiro e da viúva (Dt 24,18-22). Havia também a “lei do levirato”, segundo a qual a viúva sem filho do sexo masculino deveria ser desposada pelo cunhado (Dt 25,5). A “lei do Resgate da terra” (Dt 25,5-10) permitia a continuação do nome da família e o direito de permanecer na terra. Essas três leis na época do tribalismo serviam de garantia para que todos tivessem acesso à terra, ao pão e a continuidade da família. Mas no pós-exílio, no domínio persa, essas leis não eram mais cumpridas e o povo não conseguia mais sair de sua miséria.
Rute ao chegar nos campos de Moab foi logo em busca de comida, esta era a necessidade imediata para elas. O segundo passo de Rute e Noemi, ao encontrar Booz, foi investigar sobre a possibilidade do resgate, isto representa segurança e proporciona “bem-estar parcial ao lado do parente longínquo”. Para conseguir realizar o segundo passo, Rute aconselhada por Noemi, executa o terceiro passo que refere-se ao contato direto com Booz. Este contato demonstra a aproximação entre “Deus e a terra”, produzindo a teologia da valorização do corpo, que por sinal ia contra a teologia oficial (Esdras e Neemias). Este processo tem como síntese as conquistas das mulheres frente ao patriarcalismo, pois, o resgate a lei do levirato, através da realização do casamento e o nascimento do menino, aconteceu na porta da cidade diante dos anciões. A porta da cidade era um local específico dos homens, um espaço masculino onde se tomavam as grandes decisões política, econômica, social, cultural e religiosa.
A LEI QUE
EXCLUE OS FRACOS
Os sujeitos da história são duas mulheres, viúvas, sem filhos e além disso uma delas (Rute) era estrangeira. Elas representam os pobres, que já não tinham perspectiva de vida. A teologia da retribuição justificava essa situação. Quem era pobre, o era por causa dos seus pecados, porque não eram fiéis à lei. O código da pureza excluía os pobres. Jamais um pobre conseguiria cumprir esse código, pelo simples fato de ser pobre. Os próprios pobres eram considerados responsáveis pelas desgraças, porque não cumpriam a lei. Esdras dizia que o sofrimento do povo era castigo de Deus por causa dos casamentos com mulheres estrangeiras (Esd 10,2ss). Toda essa realidade é questionada no livro de Rute. É a sabedoria do povo que começa a distinguir a vontade de Javé e assim, questionar a estrutura que os massacrava.
O livro de Rute mostra os vários caminhos percorridos entre a situação de fome e miséria da família de Elimelec até o nascimento de Obed, que foi a concretização de que a vida do povo pudesse ser garantida. O primeiro passo foi tomar consciência de que era possível vencer a fome e por-se a caminho. Era preciso voltar para a terra em busca do pão, voltar às raízes, aos costumes antigos, à situação ideal do tempo do Juizes (Tribalismo). Como o povo do êxodo, era necessário caminhar (Rt 1,6). Chegando de volta a Belém, foi preciso respigar para satisfazer suas necessidades básicas, matar a fome (Rt 2,2). Depois foi necessário resgatar a terra e o nome da família, mesmo que para isso fosse necessário atualizar e resgatar o verdadeiro sentido das leis que regiam o povo na sociedade igualitária. Por fim chegou Obed, fruto de toda essa caminhada. Ele tornou-se símbolo daquele que resgata todo o povo pobre.
Neste contexto os pobres são os sujeitos da história, que precisam usar suas potencialidades para resgatar os seus direitos e garantir a vida. Para isso é necessário unir-se, tomar consciência de sua situação e lutar pelos seus direitos, iniciando pelos que garantam a satisfação das necessidades básicas, que é o “pão de cada dia”. Há no livro uma ligação profunda entre a fé a vida. É pela situação concreta que o povo vive que se percebe o quanto a fé está sendo vivida ou não. A fé num Deus libertador, que se manifesta primordialmente no êxodo, está sendo coerente só na medida em que todo o povo tenha acesso à saúde, à terra, ao pão… Essa é a vida que Javé quer para seu povo. Se na época em que o livro foi escrito isso não estava acontecendo, a culpa não era do povo mas da estrutura injusta imposta pelo Império persa e pelos próprios sacerdotes que faziam da religião uma forma de alienar e oprimir ainda mais o povo. Oxalá o livro de Rute sirva hoje como uma denúncia a tudo o que oprime o povo e lhe impede de viver com dignidade.
Neste sentido, gostaria de refletir sobre a situação atual das mulheres em conformidade com a leitura crítica do livro de Rute. Pois, o livro de Rute mais do que nunca, é um texto voltado a realidade concreta das mulheres, que são excluídas do processo social elaborado pelos homens. No livro de Rute podemos perceber a existência de uma teologia feminina, que procura tirar a mulher do anonimato e apresentá-la como uma totalidade em busca de outras totalidades. Ocorre, neste sentido, o rompimento com o patriarcalismo que mantinha a situação de dependência. “A mulher só é em relação ao marido”. Pois, o sobrenome do marido é que dá identidade à mulher! O filho homem é responsável pela perpetuação do clã! Estas idéias patriarcais aparecem como pano de fundo no livro de Rute. No primeiro capítulo percebemos que a dependência das mulheres em relação aos homens faz parte do próprio pensamento feminino. Noemi não via nenhuma perspectiva em relação ao futuro, pois não tinha marido nem filhos. No entanto, Rute mesmo diante das dificuldades decide caminhar com a sogra, em busca de uma saída alternativa.
Os sujeitos da história são duas mulheres, viúvas, sem filhos e além disso uma delas (Rute) era estrangeira. Elas representam os pobres, que já não tinham perspectiva de vida. A teologia da retribuição justificava essa situação. Quem era pobre, o era por causa dos seus pecados, porque não eram fiéis à lei. O código da pureza excluía os pobres. Jamais um pobre conseguiria cumprir esse código, pelo simples fato de ser pobre. Os próprios pobres eram considerados responsáveis pelas desgraças, porque não cumpriam a lei. Esdras dizia que o sofrimento do povo era castigo de Deus por causa dos casamentos com mulheres estrangeiras (Esd 10,2ss). Toda essa realidade é questionada no livro de Rute. É a sabedoria do povo que começa a distinguir a vontade de Javé e assim, questionar a estrutura que os massacrava.
O livro de Rute mostra os vários caminhos percorridos entre a situação de fome e miséria da família de Elimelec até o nascimento de Obed, que foi a concretização de que a vida do povo pudesse ser garantida. O primeiro passo foi tomar consciência de que era possível vencer a fome e por-se a caminho. Era preciso voltar para a terra em busca do pão, voltar às raízes, aos costumes antigos, à situação ideal do tempo do Juizes (Tribalismo). Como o povo do êxodo, era necessário caminhar (Rt 1,6). Chegando de volta a Belém, foi preciso respigar para satisfazer suas necessidades básicas, matar a fome (Rt 2,2). Depois foi necessário resgatar a terra e o nome da família, mesmo que para isso fosse necessário atualizar e resgatar o verdadeiro sentido das leis que regiam o povo na sociedade igualitária. Por fim chegou Obed, fruto de toda essa caminhada. Ele tornou-se símbolo daquele que resgata todo o povo pobre.
Neste contexto os pobres são os sujeitos da história, que precisam usar suas potencialidades para resgatar os seus direitos e garantir a vida. Para isso é necessário unir-se, tomar consciência de sua situação e lutar pelos seus direitos, iniciando pelos que garantam a satisfação das necessidades básicas, que é o “pão de cada dia”. Há no livro uma ligação profunda entre a fé a vida. É pela situação concreta que o povo vive que se percebe o quanto a fé está sendo vivida ou não. A fé num Deus libertador, que se manifesta primordialmente no êxodo, está sendo coerente só na medida em que todo o povo tenha acesso à saúde, à terra, ao pão… Essa é a vida que Javé quer para seu povo. Se na época em que o livro foi escrito isso não estava acontecendo, a culpa não era do povo mas da estrutura injusta imposta pelo Império persa e pelos próprios sacerdotes que faziam da religião uma forma de alienar e oprimir ainda mais o povo. Oxalá o livro de Rute sirva hoje como uma denúncia a tudo o que oprime o povo e lhe impede de viver com dignidade.
Neste sentido, gostaria de refletir sobre a situação atual das mulheres em conformidade com a leitura crítica do livro de Rute. Pois, o livro de Rute mais do que nunca, é um texto voltado a realidade concreta das mulheres, que são excluídas do processo social elaborado pelos homens. No livro de Rute podemos perceber a existência de uma teologia feminina, que procura tirar a mulher do anonimato e apresentá-la como uma totalidade em busca de outras totalidades. Ocorre, neste sentido, o rompimento com o patriarcalismo que mantinha a situação de dependência. “A mulher só é em relação ao marido”. Pois, o sobrenome do marido é que dá identidade à mulher! O filho homem é responsável pela perpetuação do clã! Estas idéias patriarcais aparecem como pano de fundo no livro de Rute. No primeiro capítulo percebemos que a dependência das mulheres em relação aos homens faz parte do próprio pensamento feminino. Noemi não via nenhuma perspectiva em relação ao futuro, pois não tinha marido nem filhos. No entanto, Rute mesmo diante das dificuldades decide caminhar com a sogra, em busca de uma saída alternativa.
Conclusão
O livro de Rute serve para nós como um testemunho de encorajamento e desafio, pois continuamos vivendo numa sociedade onde o homem é detentor do poder e das decisões. Superar os preconceitos quanto as questões de gênero, de raça, de cor… etc, exige esforço e muita coragem por parte dos excluídos e marginalizados. Como podemos encontrar esta chave, que dá acesso à porta da libertação? O livro de Rute é uma alternativa que possibilita o encorajamento em torno da compreensão de que os fracos quando se organizam e buscam seus direitos conseguem garantir a cidadania e a continuidade da vida...
O livro de Rute serve para nós como um testemunho de encorajamento e desafio, pois continuamos vivendo numa sociedade onde o homem é detentor do poder e das decisões. Superar os preconceitos quanto as questões de gênero, de raça, de cor… etc, exige esforço e muita coragem por parte dos excluídos e marginalizados. Como podemos encontrar esta chave, que dá acesso à porta da libertação? O livro de Rute é uma alternativa que possibilita o encorajamento em torno da compreensão de que os fracos quando se organizam e buscam seus direitos conseguem garantir a cidadania e a continuidade da vida...
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.