A PERSEVERANÇA E VITÓRIA DE CALEBE...
Josué 14.1-14
Introdução
Há lutas na história da humanidade que levaram muito tempo para serem
vencidas. A vitória dependeu, em muito, da persistência dos que acreditavam nos
ideais. Muitas vidas foram perdidas ao longo do processo, mas houve um dia em
que a vitória pôde ser proclamada. Uma das mais antigas foi a Guerra do
Peloponeso, que aconteceu de 431 a404 a.C. Foram 27 anos de batalha entre
as cidades-estado gregas, provocada pelas disputas entre atenienses e
espartanos na Antiguidade Clássica. Recentemente, temos longas guerras civis
ainda em andamento, especialmente na África. Existem vários fatores que podem
motivar esses conflitos, mas eles devem ser fortes o suficiente para levar até
mesmo gerações diferentes a entrar na luta por ideais que consideram elevados.
Na vida cristã, existem batalhas que levamos muito tempo para vencer. Na
verdade, lutamos o tempo todo, até que a morte nos traga o descanso enquanto
aguardamos o Senhor, ou até que ele volte nas nuvens para levar seu povo
escolhido. Jesus disse: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu
venci o mundo!” (João 16.33).
A história de Calebe
Na história do povo de Deus no Antigo Testamento, há um lindo relato a
respeito da perseverança para conquistar algo. É a história de Calebe. Ele foi
um dos espias enviados por Moisés à terra prometida. Naquele tempo, ele tinha
quarenta anos de idade. Era um homem maduro, no vigor físico e mental
requeridos de um soldado. Estava alerta, pronto e saudável. Pronto para lutar e
para vencer. Mas seus companheiros de guerra e de espionagem vacilaram. Em
Números 13, é contado que eles voltaram de espiar a terra e declararam ao povo
como se sentiam diante de seus adversários. Os inimigos eram fortes, altos,
grandes e numerosos. Aos olhos deles, os hebreus nômades eram como gafanhotos.
E eles se comportaram como gafanhotos, fugindo em debandada diante dos
inimigos. Seu olhar era pequeno, bem como sua fé. Por causa disso, não foi
possível a conquista. Eles pagaram um preço pela incredulidade. Deus fez uma
dura promessa: eles não entrariam na terra prometida. Vagariam pelo deserto por
40 anos até que toda aquela geração morresse e um novo povo, que não fosse
rebelde e descrente como eles, veriam a promessa da qual eles duvidaram
(Números 14). Todos, exceto Josué e Calebe, os únicos que tiveram a visão de
Deus para a conquista. Eles que não se viram “como gafanhotos”, mas como
“filhos de Deus”, escolhidos pelo Senhor para a conquista. A eles, deu o Senhor
outra promessa: “Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito,
e perseverou em seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua
descendência a possuirá em herança” (Números 14.24).
Depois de aproximadamente 45 anos, estava Josué à frente do povo, diante
do Jordão. Ele mesmo, agora já também idoso. Não sabemos quantos anos ele tinha
quando foi espiar a terra. Mas Deus havia prometido que todos aqueles com mais
de 20 anos de idade não veriam a terra. Se tivesse por volta de 30 naquela
época, já que foi escolhido como um homem experiente para a espionagem e a
guerra, teria ele pelo menos uns 75 anos. Estava idoso e um pouco cansado.
Imagine o que seja peregrinar sem rumo por 40 anos de sua vida, sem pouso, sem
parada, sem uma casa onde morar, sem dar estabilidade à família. Mas a
perseverança agora estava sendo recompensada. Diante da terra, na noite
anterior à guerra, certamente Josué reviveu tudo o que tinha experimentado.
Aquela era a mesma terra, quem sabe o mesmo lugar de onde ele observava ao
longe 45 anos antes... E seu colega Calebe se aproxima dele para rememorar as
palavras ditas por Deus há tempo tempo atrás. Calebe nos ensina algumas lições
importantes para a vitória em nossa vida no dia de hoje. Lições que muita gente
do passado também aprendeu e deixou hoje para nós. Lições que quero partilhar,
de modo especial, conosco que hoje celebramos 124 anos do trabalho feminino
organizado em Sociedades na nossa Igreja Metodista!
Calebe venceu porque guardou a
promessa
Imagine Calebe diante daquele povo descrente, há 45 anos. Imagine o
furor que deve ter subido ao seu coração no primeiro momento, como um homem
corajoso e guerreiro que ele era. Seu rosto deve ter ficado crispado de ânsia
pela guerra, pela conquista. Seu coração devia estar cheio de fé na promessa
divina. Mas seus companheiros não pensavam como ele e logo desanimaram todo o
povo. Ele deve ter insistido, chamado o povo à razão. Um Deus que põe água e
carne no deserto, que põe comida à mesa diariamente, que faz milagres
incríveis, que abre o Mar Vermelho não pode ser alvo de tamanha descrença!
Vamos à guerra!, ele deve ter clamado. Em vão. E o resultado da
incredulidade é a promessa de que não poderão chegar ao destino no tempo certo.
Que existe mais a esperar. Uma espera mortífera e inútil. Apenas para que uma
geração inteira morra. Isso seria de desanimar qualquer um.
“A esperança adiada desfalece o coração, mas o desejo atendido é árvore
de vida”, diz Provérbios 13.12. Calebe deve ter lutado muito contra os
sentimentos de desânimo ao longo dos anos. Eu, no lugar dele, talvez
amaldiçoasse meus conterrâneos, porque a incredulidade deles tirou a minha
bênção. Pelo menos, esse pensamento me assaltaria de quando em vez...
Mas Calebe não se deixou amargurar pela incredulidade dos outros. Temos
tanta facilidade para guardar as palavras más que nos dizem, mas tanta facilidade
em esquecer os elogios. Sabemos dizer quando e como Deus nos provou no passado,
mas talvez não tenhamos riqueza de detalhes para descrever o que ele nos
prometeu ao longo do caminho. A vitória não é uma batalha rápida, que se vence
de uma vez. A verdadeira vitória pode consistir de longas e contínuas batalhas,
até que se chegue ao final. Por isso, diziam os generais antigos: “Ganha-se uma
batalha, mas ainda se pode perder a guerra”! Vencer requer perseverança, requer
um coração forte. Isso não se consegue guardando ressentimentos, mas mantendo o
foco nas promessas. Esse era o coração de Calebe, porque ele mesmo declara a
Josué: “Quarenta anos tinha eu, quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de
Cades-Barnéia a espiar a terra; e
eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração; mas meus irmãos, que
subiram comigo, fizeram derreter o coração do povo; eu, porém, perseverei em seguir ao Senhor,
meu Deus”.
No coração de Calebe não havia espaço para a incredulidade há 45 anos e
não havia espaço para ressentimentos 45 anos depois. A hora era de conquista e
isso requeria um ânimo de espírito que havia sido forjado em anos e anos de
deserto, de luta e de espera.
Que promessas Deus fez a você e a mim e que ainda não foram cumpridas?
Você as jogou fora? Você desistiu delas? Ou você as mantém vivas no seu
coração, alimentando-as com oração e perseverança, aguardando pelo resultado?
As promessas de Deus podem ser como o bambu chinês. Já ouviu falar nele?
“O bambu-chinês (Bambusa mitis) é uma planta da família das gramíneas,
nativa do Oriente - Sul da China. Caracteristicas: Possui colmos verde-escuros
e folhas compridas e largas, verde-claras. Nome científico: Dendrocalamus
latiflorus Utilidade: Fornece material pouco resistente utilizado em marcenaria
e cestaria, porém é excelente para lenharia. Os brotos do Bambu Chines, são
comestivés 'Variações de nome:'bambu-bengala e bambu-verde. Depois de plantada
a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente 5 anos,
exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo. Durante 5
anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas... uma maciça
e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela
terra está sendo construída. Então, no final do 5º ano, o bambu chinês cresce
até atingir a altura de 25 metros” (Wikipédia).
Calebe plantou a semente da promessa divina em seu coração. Todos os
dias, ele rememorava o que Deus tinha lhe dito. Essa semente, invisível a olho
nu, pois ele continuava peregrinando, se tornou verdade naquele dia, 45 anos
depois. Guarde a promessa que Deus fez a você. Ele vai cumpri-la a seu tempo.
Tão somente mantenha seu coração focado na promessa, não nas desavenças, nem
nas dificuldades. As promessas de Deus são sementes que não morrem...
Calebe venceu porque manteve a
resistência
Muitas lutas que enfrentamos podem extrair nossas forças a ponto de
desfalecer. O desfalecimento é um grave perigo, tanto espiritual quanto
fisicamente. Vemos os atletas que desmaiam depois de longas corridas e sabemos
que é muito perigoso, pois o excesso de fadiga pode sobrecarregar pulmões e
coração, levando à morte. O cristão deve manter-se no foco da resistência.
Paulo diz: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo
ceifaremos, se não desfalecermos” (Gálatas 6.9). Em Lucas 18, Jesus conta a
história da mulher que constantemente ia a um juiz, até que ele atendeu à sua
causa. Lucas nos fala que Jesus queria ensinar-nos sobre o dever de orar sempre
e nunca desfalecer.
No Salmo 119.81-83, o salmista faz um paralelo entre a situação difícil
que vivia e a disposição em que procurava manter o seu coração: “Desfalece a
minha alma pela tua salvação, mas espero na tua palavra. Os meus olhos
desfalecem pela tua palavra; entrementes dizia: Quando me consolarás tu? Pois
estou como odre na fumaça; contudo não me esqueço dos teus estatutos”.
Dizem que Thomas Edson, o importante pesquisador, considerado um dos
mais fecundos inventores da humanidade, após dois anos de experiências
fracassadas, ouviu atenciosamente um dos seus colaboradores que, desanimado,
argumentou: "Vamos desistir desse invento. Já fizemos 700 experiências
inúteis! Não há mais o que tentar!" Thomas Edison teria respondido:
"Não podemos abandonar a tarefa neste momento, quando já sabemos que 700
testes não devem mais ser experimentados!" E, insistindo um pouco mais, em
outubro de 1879, ele descobriu a lâmpada elétrica, a mesma que usamos até os
dias de hoje em nossas casas...
De que você tem desistido? Que orações você tem abandonado por achar que
já passou tempo demais sem resposta? Que caminhos ou tentativas você deixou de
lado sem tentar um pouco mais? A palavra de Deus diz que o Senhor não tem
prazer nas pessoas que retrocedem, mas naquelas que seguem adiante. Um dos
versículos que sempre gosto de trazer à mente é exatamente este:
“Desembaraçando das coisas que para trás ficam e caminhando para as que diante
de mim estão”... Muitas vezes, não resistimos porque ficamos amarrados ao erro
do passado. Deus não quer que desistamos, mas que tentemos outra vez. Que
mantenhamos a resistência, pois o desânimo, na longa batalha da vida, é fatal!
Calebe venceu porque renovou
suas forças
A resistência não é mantida por si mesma. Só adquirimos resistência pelo
esforço: o atleta que treina, o jogador de xadrez que exercita a mente para as
jogadas, o médico que se aprimora em sua arte de curar são exemplos de pessoas
que se renovam na busca por uma performance melhor naquilo que fazem.
Calebe, ao se aproximar de Josué, lhe diz: “E agora eis que o SENHOR me
conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde que o
SENHOR falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e agora
eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; e ainda hoje estou tão forte como
no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força então, tal é
agora a minha força, tanto para a guerra como para sair e entrar”.
Que coisa maravilhosa! Alguém que mantém suas forças em dia! Calebe não
aposentou sua espada enquanto não conquistou o que era a promessa de Deus para
ele! Ele treinou e esperou por anos a fio a fim de estar pronto para o que
fosse necessário! Sua resistência não era algo apenas motivacional, mas físico,
por tomar todo o seu ser!
Quantas vezes achamos que já fizemos o que tínhamos de fazer. Tiramos
folga de nossos ministérios, abrimos mão de nossos espaços, achamos que estamos
melhor sem fazer nada do que se estivermos envolvidos, nos sentimos cansados
pelo serviço de Deus. Achamos que somos novos demais, velhos demais, casados
demais, ocupados demais, pecadores demais. E perdemos as forças porque não as
usamos!
Calebe venceu porque nunca esteve fora da batalha. Porque não tirou
folga, nem amorteceu os músculos. Que homem de 85 anos pode dizer o que ele
disse senão aquele que se manteve em forma ao longo de toda a sua vida?
A palavra de Deus diz, em Isaías 40.31: "Mas os que esperam no
Senhor, renovarão as suas forças, caminharão e não se fatigarão."
Você tem se sentido cansado de suas lutas? Você tem se desanimado? Tem
vontade de jogar tudo para o alto? Isso pode nos acontecer muitas vezes ao
longo do caminho, é natural e humano. Mas não ceda a essa tentação ou você não
verá a terra prometida! “Descansa no Senhor e espera nele”; “Vinde a mim todos
vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” – é Jesus que
promete a você que é possível ser renovado em suas forças, é possível continuar
no campo de batalha, é possível vencer! Renove suas forças no Senhor e em suas
promessas que não falham. “Aquele que perseverar até o fim, será salvo!”, ponha
em prática as promessas de Jesus e encontre nele o vigor...
Calebe venceu porque lutou a
última batalha
“Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele dia; pois
naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes cidades.
Porventura, o Senhor será comigo, para os expulsar, como o Senhor disse. E
Josué o abençoou, e deu a Calebe, filho de Jefoné, a Hebrom em herança.
Portanto, Hebrom ficou sendo herança de Calebe, filho de Jefoné o quenezeu, até
ao dia de hoje, porquanto perseverara em seguir ao Senhor, Deus de Israel.”
Calebe, em seus oitenta e cinco anos de idade, não permitiu que lutassem a luta
final por ele. Ele subiu com seus companheiros e conquistou o monte que Deus
havia lhe prometido. Antes, aquele lugar era chamado de Arba, um dos nomes dos
grandes entre os gigantes que ali viviam. Era uma homenagem a um ser humano,
que embora fosse forte e valente, era apenas humano. Mas Calebe deu a sua herança
um novo nome, um nome significativo e que nos revela o caráter de vencedor que
havia neste homem de Deus. Hebrom significa união, aliança. Sinaliza não
somente que Calebe não teve sua vitória final sozinho, mas que ele a partilhou
com seus companheiros de luta e com Deus, seu Senhor. A conquista verdadeira é
aquela que vem como resultado de uma aliança feita com o Deus verdadeiro. Uma
aliança perene, que resiste à incredulidade ao nosso redor, que resiste aos
castigos impostos pela vida, que resiste às tempestades e lutas do deserto, que
resiste ao tempo e encontra seu cumprimento em Deus.
Calebe venceu porque guardou a promessa, porque manteve a resistência,
porque renovou as forças e porque lutou as batalhas que havia para lutar. Eu e
você também podemos usar esses mesmos princípios espirituais para vencer nossas
lutas hoje. Para continuar no caminho dos que creram antes de nós e para deixar
uma herança para quem vier depois. Que sejamos Calebes para nosso tempo. Quando
todos deixarem de crer, creiamos. Quando todos desanimarem, alimentemos nosso
coração com as promessas. Quando todos se cansarem, renovemos nossas forças. E
a vida ao redor se extinguir, prosseguiremos vivos para sempre. Não se trata de
nós, mas do Deus que é fiel em suas promessas...
Bispo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson
Cavalcante.
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