ESTUDO BÍBLICO SOBRE A SENHORA ELEITA
CITADA NAS A EPÍSTOLA DE JOÃO...
Segunda Epístola de João
1 O Presbítero à
senhora eleita, e a seus filhos, aos quais amo na verdade, e não somente eu,
mas também todos os que têm conhecido a verdade, 2 Por amor da verdade que está
em nós, e para sempre estará conosco: 3 Graça, misericórdia e paz, da parte de
Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, seja convosco na verdade
e amor. 4 Muito me alegro por achar que alguns de teus filhos andam na verdade,
assim como temos recebido o mandamento do Pai. 5 E agora, senhora, rogo-te, não
como se escrevesse um novo mandamento, mas aquele mesmo que desde o princípio
tivemos: que nos amemos uns aos outros. 6 E o amor é este: que andemos segundo
os seus mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes,
que andeis nele. 7 Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não
confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o
anticristo. 8 Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho,
antes recebamos o inteiro galardão. 9 Todo aquele que prevarica, e não persevera
na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo,
esse tem tanto ao Pai como ao Filho. 10 Se alguém vem ter convosco, e não traz
esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. 11 Porque quem o
saúda tem parte nas suas más obras. 12 Tendo muito que escrever-vos, não quis
fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar face a face, para
que o nosso gozo seja cumprido. 13 Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita.
Amém.
INTRODUÇÃO [1]
Talvez o termo “bilhete
de João” descrevesse bem esta pequena carta à “Senhora Eleita”. Um dos menores
livros da Bíblia, com apenas 13 versículos e uma mensagem de grande valor para
os dias atuais, prova mais uma vez que o trabalho do Espírito Santo por trás da
formação do cânon bíblico.
Autor
“O presbítero” – a
palavra é uma transliteração do grego presbúteros, que significa tanto
ancião como um cargo da Igreja (1 Pe 5.1). Para reconhecermos a autoria de João
devemos perceber a semelhança da linguagem e mensagem da carta com 1 João. 1
João não faz menção de autor, mas o tipo de linguagem é o mesmo do Evangelho de
João.
“No princípio era
aquele que é a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. Ela
estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dela;
sem ela, nada do que existe teria sido feito. Nela estava a vida, e esta era a
luz dos homens.” (Jo 1.1-4)
“O que era desde o
princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e
as nossas mãos apalparam -- isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A
vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a
vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada.” (1 Jo 1.1,2)
“Se vocês obedecerem
aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos
mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço.” (João 15.10)
“Quanto a vocês, cuidem
para que aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês. Se o que
ouviram desde o princípio permanecer em vocês, vocês também permanecerão no
Filho e no Pai.” (1 Jo 2.24)
“Muito me alegrei por
ter encontrado alguns dos seus filhos, pois eles estão andando na verdade
conforme o mandamento que recebemos do Pai.” (2 Jo 4)
A grande maioria dos
pais da igreja (cristãos do século II em diante) reconhece João como autor das
cartas e do Evangelho. Uma importante testemunha é Irineu, discípulo de
Policarpo. Policarpo, por sua vez, foi discípulo de João (como Timóteo e Tito
foram de Paulo, e Marcos foi de Pedro).
Apesar disso, nos
primeiros anos da Igreja, existiu uma corrente que afirmava a existência de
duas pessoas chamadas João na Igreja Primitiva. Elas seriam João, “o discípulo
amado”, e João, “o presbítero”, mas poucos davam valor a esta teoria. A teoria
perdeu a força com o tempo, mas ressuscitou recentemente com alguns defensores,
teólogos liberais em sua maioria. (Na verdade, a inventividade destas pessoas
já deve ter criado quase 10 pessoas chamadas “João” na Igreja primitiva).
Destinatários
“A Senhora Eleita e
seus filhos” – Pode ser uma referência a uma respeitável irmã. Esta teoria é
menos provável, por isso cremos que é apenas uma forma de João se expressar em
relação à Igreja a quem ele escreve. No final da carta ele também faz referência
à “irmã eleita” que saúda. E Pedro fala de uma “eleita” em Babilônia, em 1
Pedro 5.13.
Curiosidade: As teorias
quanto à “Senhora Eleita” (eklekte kuria) como
pessoa são tão criativas que sugerem desde Maria, mãe de Jesus (pois João ficou
responsável por ela), a Marta, irmã de Lázaro (cujo nome significa “senhora,
dama”), e até uma mulher chamada Electa. Alguns até que se trata de uma carta
de amor de João a esta “Electa”.
Propósito
Advertir a Igreja
quanto à chegada de falsos mestres. Podemos tomar “verdade” como palavra-chave
da epístola.
MENSAGEM E CONTEÚDO
Caminhar cristão - Três formas em 1
- O cristão anda na
verdade (v.4)
- O cristão anda em amor (v.6)
- O cristão anda segundo os mandamentos (v.6)
- O cristão anda em amor (v.6)
- O cristão anda segundo os mandamentos (v.6)
Por que três formas em
uma? Veja como o raciocínio de João dá um loop, é cíclico:
Quem caminha na
verdade, está caminhando conforme o mandamento recebido do Pai. Que mandamento
é este? Que nos amemos uns aos outros. Então, João resolve definir o que é o
amor. E qual não é a nossa surpresa quando ele responde “que andemos em
obediência aos mandamentos do Pai”? Quem anda em obediência aos mandamentos do
Pai está – logicamente – caminhando na verdade.
Assim, não existe forma
de se separar a verdade, o amor e o mandamento. E apenas os crentes são capazes
de andar desta forma – conhecem a Verdade (João 14.6), amam (1 João 4.7,8) e
guardam os mandamentos (João 14.21).
O amor cristão é mais
que um sentimento de simpatia, amizade ou atração. Amar é um mandamento de
Deus, ou seja, envolve a ação objetiva de realmente amar as pessoas, apesar de
tudo. Esta é a diferença do amor humano para o amor de Deus.
“O homem ama por causa de, Deus nos ama apesar de” (citado pelo Prof.
Marcos Alexandre R. G. Faria)
Claro que isto é
extremamente difícil, mas podemos usar a “dica” que C.S. Lewis nos dá em seu
livro Cristianismo Puro e Simples para amar o próximo
como a si mesmo. A citação é grande, mas me parece que vale ser lida:
“Como é, exatamente, que amo a mim
mesmo?(...) Meu amor próprio me faz pensar bem de mim mesmo, mas pensar bem de
mim mesmo não é o motivo pelo qual me amo. Amar os inimigos, então, não
significa ter que pensar bem deles... Por mais que eu não gostasse da minha
covardia, do meu convencimento e de minha ambição, jamais deixei de me amar.
Nunca houve a menor dificuldade nisso.
De fato, a verdadeira razão pela qual eu odiava as más ações era
que eu amava quem as praticava. Justamente porque me amava é que sentia
tristeza em constatar que eu sou a espécie de homem que faz essas coisas (...)
O Cristianismo pretende que as odiemos [as ações más do próximo] do mesmo modo
como odiamos as nossas próprias ações: ficando tristes pelo fato de alguém ter
feito tais coisas e esperando, se for possível, de alguma maneira, em algum
tempo ou lugar, a cura para esa pessoa..
(...) Admito que isso significa amar pessoas que nada têm de
amáveis em si mesmas. Mas então será que alguém possui algo de amável em si
mesmo? Amamos a nós mesmos simplesmente porque somos nós. Deus quer que amemos
as pessoas do mesmo modo e pela mesma razão... Talvez isso fique mais fácil se
nos lembrarmos de que é assim que Ele nos ama. Não pelas boas e atraentes
qualidades que supomos ter, mas só porque somos pessoas como somos.”
Quanto aos Falsos Mestres
Mais uma vez, um
escritor bíblico precisa enfrentar o proto-gnosticismo, início do movimento
gnóstico (que só ganharia força no século II). Da mesma forma que Judas teve de
tratar aqueles que transformavam a graça de Deus em libertinagem, João tem de
lidar com enganadores que negavam que Jesus veio em carne.
Devido à idéia (da
filosofia grega) de que aquilo que era matéria era ruim, estes falsos mestres
não podiam aceitar que “o Verbo (Logos) se fez carne”. Era inimaginável para
este pensamento que um ser transcedente (seja o próprio Deus, seja o “Logos”)
se torne um ser humano, algo mau na opinião deles.
João muito
provavelmente está combatendo uma destas duas correntes de pensamento
protognóstico.
Docetismo – do grego “dokeo” = parecer. Criam que Jesus tinha apenas a aparência de
homem, mas era um espírito.
Cerintismo – Cerinto,
um herege, ensinou que Jesus era humano, mas ao ser batizado, o “Cristo” na
forma de pomba, desceu sobre ele. Na cruz, o “Cristo” o deixou, e ele morreu
sozinho, como homem.
Trecho de “Atos de
João”, apócrifro do segundo ou terceiro século. Aqui “Jesus” revela a “João” o
que realmente aconteceu com ele quando da crucificação:
“Tu deves conhecer a mim, então,
como um tormento do Logos, o sangue do Logos, as feridas do Logos, o jejum do
Logos, a morte do Logos. Assim eu digo, descartando minha humanidade. O
primeiro então que deves conhecer é o Logos, depois deves conhecer o Senhor, e
em terceiro lugar o homem, e o que ele sofreu."
Lidando com falsos mestres
Antes de seguir, é
evidente que precisamos do cuidado em conciliar o ensino de Jesus quanto ao
joio e ao trigo, e o ensino de João quanto aos falsos mestres. O ponto, em
minha opinião, é bastante simples. Pelo que sei é complicado diferenciarmos o
joio do trigo, mas no caso dos falsos mestres percebemos claramente que estes
homens se assemelham tanto aos mestres da verdade quanto um campo de
cana-de-açúcar se assemelha ao trigo – e ao próprio joio, ironicamente.
Tendo isto em mente,
prossigamos.
1) “Não recebam em casa”
João está dizendo que
estes falsos mestres haviam “saído pelo mundo”. Provavelmente, ele estava
alerta quanto às suas atividades e escreveu esta carta advertindo os crentes a
não os receberem em casa (v.10).
Aqui, não se trata do
caso de levarmos ao extremo de enxotar todos aqueles que discordem de nossas
opiniões. Aliás, embora o crente deva deixar claro suas convicções em relação
ao evangelho, ele não tem nada que tratar mal aqueles que não abraçaram o
cristianismo. Então de que João fala aqui?
É ponto pacífico entre
os estudiosos que muitos cristãos tinham ministérios intinerantes, viviam de
cidade em cidade pregando e ensinando. Este exemplo é simplesmente uma imitação
da forma como Jesus agia (Mt 9.35, Lc 13.22) e como Ele ensinou aos seus
primeiros discípulos (Lc 10.1). Sabemos que Paulo também fazia isto e que muito
provavelmente alguns dos irmãos de Jesus tinham um ministério do tipo (1 Co
9.5). Assim, estas pessoas que “saíram pelo mundo” muito provavelmente estavam
fazendo ministérios do tipo.
Diante destas
evidências, podemos entender que João não permitia que os filhos da Senhora
Eleita deixassem estes homens entrarem nas casas – onde reuniam-se as igrejas
primitivas, para ensinarem. O grande problema desses homens não é que eles não
fossem “crentes”. Como precisamos entender nos dias de hoje, a ameaça era de
homens que se diziam cristãos (e talvez até acreditassem que eram), mas não eram, pois
ensinavam mentiras. Posando com uma falsa humildade (como vemos em Colossensess
2) poderiam enganar ou perturbar alguns membros da Igreja.
Não tenho qualquer
dúvida do quão importante este ensino é para os dias de hoje. Desde o princípio
do cristianismo, falsos mestres perambulam por aí, “em nome de Jesus”,
ensinando tolices e deturpações da doutrina dos evangelhos. Se naquela época,
quando os discípulos de Jesus ainda eram vivos, existia este problema, quanto
mais hoje!
Há alguns meses antes
de escrever esta aula, a igreja em que congrego passou, em menos de duas
semanas, por uma situação parecida. Num final de semana, nos visitou um pastor
batista para um congresso, e quando nos demos conta, ele desfilava um estoque
de heresias que levaria Lutero a escrever pelo menos mais umas 950 teses. Na
semana seguinte, uma senhora famosa por seus programas de TV veio trazer uma
mensagem para nossas crianças. Sua mensagem era tão contrária aos princípios da
igreja que foi preciso semanas para tentar apagar isso.
O resultado – estas
pessoas não serão mais recebidas “em casa”, e os próximos convidados terão de
passar por uma aborrecida (porém necessária) conversa com o pastor, mesmo que
carreguem o crachá de “batista”, como nossa igreja carrega.
Embora não seja algo
sempre detectável, mais do que nunca, as igrejas cristãs precisam levar a sério
este ensinamento de João. O próprio Senhor Jesus deixou claro que não
reconhecerá, no Dia do Juízo, todo aquele que diz “Senhor, Senhor”.
Por que a Igreja tem de
reconhecê-los?
2) “Além do ensino de Cristo”
Eu disse acima que um
falso mestre não era algo sempre detectável, mas João ao menos nos fornece
pistas de como é o caráter destes enganadores. O presbítero deixa claro que são
pessoas que vão “além do ensino” (NVI) de Cristo. Esta ideia nos lembra a
convicção reformada de não ultrapassarmos o limite até onde as Escrituras nos
levam. É evidente que muitas de nossas doutrinas, ensinos, comentários são
inferências de toda a Palavra, mas isto não significa que estamos indo além.
Isto também não quer
dizer que a interpretação bíblica se fechou de tal forma que, se alguém
interpretar de forma diferente do que estamos acostumados, tratemos de apelidar
a pessoa de anticristo e enganador. Se assim fosse, jamais teríamos a
contribuição daqueles que nos apresentaram outras visões de certos textos.
Por exemplo, a
controvérsia em relação ao “eu” de Paulo em Romanos 7. Não entrarei no mérito
da questão, mas a interpretação dada a este texto não vai além da doutrina de
Cristo – pelo contrário, podemos enxergar com outros olhos esta passagem, mesmo
que não concordemos com uma das interpretações propostas.
O problema é bem mais
fundo. Caio Fábio relata ter assistido um pastor televisivo falar que “isto de Jesus ter levado todas as
maldições na Cruz... não é bem assim”. O
problema está no “não é bem assim”. Me
lembra um irmão (isto se trata de um caso real) que discorda das palavras de
Paulo de que “nada nos separará do amor de Cristo” (Rm 8.39).
O segundo irmão, apesar
de seus problemas por “discordar” da Escritura, ou de Paulo, para sermos mais específicos,
não está numa posição de ensino. Não está sendo “recebido nas casas” e
enganando os filhos da Senhora Eleita. É verdade que ele está solapando toda a
obra da Trindade, mas não se trata do caso mais grave, porque nem todo mundo
dará atenção a alguém que não tem aquele status de professor de Bíblia.
Esta é a diferença
entre o Pastor da TV e o segundo. E, espero, pela graça de Deus que este irmão
reveja seus conceitos, pois caso um dia ele exerça algum ministério de ensino,
não tenho qualquer objeção a impedi-lo de proclamar sua “discordância” em
púlpito.
A questão é – de onde
nascem irmãos assim?
Justamente de pessoas
como o Pastor da TV!
O Pastor da TV está
falando a milhares de pessoas, das mais diversas comunidades e pensamentos
cristãos. Nem todos têm uma base bíblica para perceber a sutileza de seu
ensino. Dizer que Jesus não carregou todas as nossas maldições e que ainda
temos de purgar algumas delas aqui na Terra é desvalorizar a obra perfeita de
Cristo na Cruz. Quando o Senhor disse “está consumado”, Ele realmente quis
dizer que “está consumado!”. Ele estava dizendo “Eis que faço novas todas as
coisas”, dizendo “agora, não há mais condenação para os que estão unidos a
Mim”, “eu livrei vocês de toda maldição porque Eu estou me fazendo maldição”!
(respectivamente – Jo 19.30, Ap 21.15, Rm 8.1, Gl 3.13).
E então, alguém se
fazendo de mestre diz que “não é bem assim”.
Irmãos, esta pessoa está literalmente enganando e sendo um anticristo. “Dura é
esta palavra”, mas a palavra realmente é esta. Alguém que desmerece (além da
própria Escritura) os benefícios conquistados pelo sofrimento, pela morte, pela
obediência e pela humilhação de Jesus está numa posição contrária Àquele que
Deus prometeu que tomaria todas as nossas maldições (ou eu vou negar Isaías 53,
por exemplo?).
Que posição tomaremos?
A Verdade, que nos conduz a uma posição correta diante de Deus? Ou ao engano,
que nos torna antagonistas do Evangelho e nos coloca contra Cristo?
3) “Quem não persevera na doutrina...”
João deixa claro que só
é de Deus ou seja, um autêntico cristão, aquele que permanece no que foi
ensinado. Qualquer alteração nas doutrinas básicas do cristianismo significava
não ter nem o Pai nem o Filho. Mais uma vez, vamos tratar primeiramente dos
extremismos a que isso pode nos levar.
Os falsos mestres
estavam negando uma doutrina básica do Cristianismo – a encarnação de Jesus
Cristo. Não era uma questão de ética, não se tratava de uma discussão sobre o
Milênio, não era nada tão complexo. Era uma verdade básica da recém-nascida doutrina
cristã. [2]
A ideia de que eles não
perseveraram nos diz muito. Para alguém perseverar em alguma coisa, este alguém
precisa ter passado por este “alguma coisa”. Como João nos diz que eles não
permaneceram nesta “coisa” que é justamente a doutrina de Cristo, porém foram
além dela, inferimos que os falsos mestres anteriormente se faziam de cristãos,
e ainda deveriam se fazer. Assim, confirmamos outra vez a identidade dos
enganadores – pessoas de dentro da igreja que não pertencem, nem jamais pertenceram
à verdadeira Igreja. E é realmente isto que me preocupa mais.
Às vezes nos apegamos
tanto a um pregador, que esquecemos que ele pode, de uma hora para outra,
ultrapassar a doutrina de Cristo. E aí continuamos engolindo as bobagens que
são ditas porque o cara ainda está lá dentro da igreja, ele está ensinando.
Sim, ele foi recebido em casa e nós estamos saudando ele. E João nos dá uma
palavra dura em relação a isto.
O original traduzido
como “saudar”, segundo John Stott, seria algo como falar “boa viagem”, que por
sua vez eram uma expressão para se desejar prosperidade naquilo que a pessoa
irá fazer, era como aquela oração de bênção ou de agradecimento que fazemos
pelo “pregador convidado” ao fim do culto. Uma vez que passamos a tolerar, seja
qual for o motivo, algum ensinamento anti-bíblico de pessoas que afirmam serem
discípulos de Jesus, nos tornamos colaboradores delas.
É isto que João quer
dizer com “ter parte nas suas obras más”. Você se torna um co-participante de
obras más, realizadas por quem “não viu a Deus”, ao invés de ser um
co-participante do Evangelho (1 Co 9.23), algo apenas possível para aqueles que
“conhecem a Deus”, que têm o Pai e o Filho e, portanto, o Espírito Santo que
vem dos dois (Jo 16.7-16)
Fico cheio de
questionamentos ao ler isso. E tenho a plena convicção de que estas questões se
referem especialmente a mim. E me entristece mais, depois de um discurso tão
pomposo, pensar sobre mim mesmo nestes termos:
• Como pode um crente
não se sentir incomodado em colaborar em más obras?
• Como podemos fazer política de boa vizinhança com qualquer um que professa o nome de Cristo, mas ensina e realiza absurdos que envergonham o Senhor?
• Como podemos, depois de perceber quão enganoso foi o “mestre” que nos falou, ainda pedirmos a Deus que abençoe o seu ministério, ao invés de os admoestá-los na verdade em amor (Ef 4.15)?
• Como podemos fazer política de boa vizinhança com qualquer um que professa o nome de Cristo, mas ensina e realiza absurdos que envergonham o Senhor?
• Como podemos, depois de perceber quão enganoso foi o “mestre” que nos falou, ainda pedirmos a Deus que abençoe o seu ministério, ao invés de os admoestá-los na verdade em amor (Ef 4.15)?
E o grande desafio de
tudo isto – ter sabedoria para conciliar o amor pela verdade, o amor em verdade pelos outros, e o desprezo por aqueles que se dizem
cristãos mas são anticristos?
Que o Espírito Santo
nos guie e conceda discernimento para reconhecermos os falsos mestres e
recebermos os verdadeiros filhos da Senhora Eleita.
“Se a instrução de João parece
dura, é talvez porque o seu interesse pela glória do Filho e pelo bem das almas
humanas é maior do que o nosso, e porque a ‘tolerância de que nos orgulhamos’ é
na realidade ‘indiferença para com a verdade’.”
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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