SENHOR RESOLVE A NOSSA SITUAÇÃO...
2Cr 7.11-22
Introdução
No mundo do Antigo
Testamento, existe uma idéia muito arraigada: a de que Deus castiga o erro e
premia o acerto. É o que os teólogos chamam de “Teologia da Retribuição”. Por
causa desse pensamento é que os amigos de Jó o acusam de ter feito algo errado
para estar doente; seria um castigo de Deus. Ao mesmo tempo em que essa era uma
idéia forte, ela também encontrava resistência, especialmente entre aqueles que
queriam defender sua reta observância dos mandamentos de Deus e mesmo assim
eram passíveis de sofrer algum revés na vida.
Especialmente no
contexto da graça de Deus, trazida por Jesus a nós e explicitada no Novo
Testamento, a idéia da teologia da retribuição caiu por terra. Deus não nos
trata em termos de “olho por olho, dente por dente” quando se fala em pecado.
Ele nos ensina, nos admoesta, nos exorta. Mas isso não elimina uma outra
realidade que nós temos de encarar: mesmo que Deus não nos castigue, o pecado
tem conseqüências desastrosas para nós. Diz Paulo em Romanos 3.23: “todos
pecaram e por isso carecem da glória de Deus”. E ainda: “O salário do pecado é
a morte”. Que o pecado tem conseqüências, disso não há dúvidas. Assim, não mais
leremos o texto desta noite na perspectiva em que ele foi redigido, isto é, da
teologia da retribuição do Antigo Testamento. Mas, à luz do Novo Testamento,
vamos falar do pecado e de suas conseqüências; da doença mortal e seus
sintomas, bem como da cura divina que Deus quer realizar em nós e por meio de
nós.
A profilaxia divina
O texto que lemos é a
resposta de Deus à oração que Salomão fizera quando inaugurou o templo. Tudo
era festa, luz, cores, sacrifícios e alegria. O povo estava fiel e regozijante
diante de Deus. Já a redação dessa história acontece muito tempo
depois, quando o povo
está cativo na Babilônia. Era um tempo em que se buscava essa esperança para
animar a reconstrução da vida. Portanto, temos dois momentos: o do evento e o
da memória.
Quero fixar-me porém,
neste texto como evento, isto é, entendê-lo a partir do momento em que Deus, na
hora da festa, fala a seu servo. Para isso, quero afirmar que esse é um texto
de profilaxia divina. Isto é, a doença ainda não chegou, nada de ruim
aconteceu. A terra está saudável, festeira. Deus fala de um tempo que poderia
vir a acontecer, mas que está distante dos olhos do povo no momento.
E o que é uma atitude
profilática? É aquela que a gente toma antes de ficar doente. Quando tomamos
uma chuva forte e chegamos em casa, qual a primeira providência? Um banho
quente e um chá especial, para não ficarmos doentes. Deus também não quer que a
terra adoeça. Para isso, ele toma medidas profiláticas. Ele avisa ao povo, por
meio de seu líder, Salomão, que existe a possibilidade da doença.
É sinal disso o fato de
que, quando lemos este texto no original, todos os verbos aparecem no futuro.
Isto é, nada disso aconteceu ainda; é um tempo de prevenção.
A Palavra de Deus tem
para nós diversos ensinos preventivos, conselhos para o bem. O livro de
Provérbios é todo baseado no ensino de uma sabedoria que evite o mal para
aquele que a escuta. No salmo 119, encontramos diversas expressões singulares:
“De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo
a tua palavra”. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu
caminho”. E ainda: “De todo o coração te busquei, não me deixes fugir aos teus
mandamentos”. Com Cristo, temos o mesmo ensino: “Aquele que está de pé, vede
para que não caia”. Os apóstolos e mestres do Novo Testamento prosseguem, nos
ensinando a evitar a doença mortal que é o pecado: “Essas coisas vos escrevo
para que não pequeis”. “Sede santos como santo é o vosso Pai celeste”; “Buscai
as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus”. Enfim,
poderíamos listar uma série de medidas que funcionam em nossa vida como um
banho quente e um chá especial depois de uma chuva.
Os mandamentos de Deus
para nós são medidas profiláticas, para que evitemos a doença. Que doença é
essa? O pecado, em suas diversas manifestações. A
desobediência à vontade
divina. Deus antecipa seu cuidado e disposição em perdoar. O povo precisa saber
que existe uma doença a ser evitada. Precisa evita-la. Mas, se não o fizer,
Deus, de antemão, ensina o caminho para a cura.
O caminho da cura
divina
O texto, se o tomarmos
ao pé da letra, diz o seguinte: “E humilhar-se-ão meu povo que chamou pelo meu
nome sobre eles e orarão e buscarão minha face e converter-se-ão dos caminhos
maus deles e eu ouvirei dos céus e perdoarei os pecados deles e curarei a terra
deles”.
Quero destacar que
essas palavras, tais como se apresentam, indicam para nós o caminho da cura
dessa doença que é o pecado. Sim, pois nos versículos anteriores podemos
entender que a causa da doença da terra (cujos sintomas são a fome e a peste, a
seca) é a desobediência aos mandamentos de Deus. Como cristãos, não acreditamos
que Deus, de forma simples e direta, castiga o mal e premia o bem, como
acreditavam os antigos na teologia da retribuição. Sabemos que muitas coisas
ruins também acontecem a pessoas boas e que coisas boas acontecem a pessoas
ruins. O juízo de Deus é algo mais misterioso e profundo.
Entretanto, existe uma
regra da Física que serve para todas as realidades, mesmo as espirituais: “toda
causa tem uma conseqüência”. Isto é, tudo o que fazemos terá um resultado, bom
ou ruim. Assim, o pecado cometido pode não ser diretamente castigado por Deus,
mas ele desencadeia uma série de coisas em nossas vidas.
Quando o texto foi
redigido como está em nossas Bíblias, isso deveria estar claro para o cronista.
De fato, desobedecemos a Deus. Fomos exilados na Babilônia e nossa terra está
sofrendo com a peste, a fome, a seca. Qual o caminho para voltarmos a celebrar,
como nos tempos de Salomão? Deus dá a resposta no sonho do rei.
E meu povo que chamou
meu nome sobre si se humilhará
Em Tiago, lemos:
“Humilhai-vos sob a potente mão de Deus, para que ele, a seu tempo, vos
exalte”. A verdade é que Deus quer que olhemos para dentro de nós mesmos com
toda a sinceridade. Humilhar-se diante de Deus pode ser entendido, pura e
simplesmente, como “cair em si”, “cair na real”. É como o filho pródigo que, ao
olhar para si mesmo, tira de seus olhos uma venda que o impedia de enxergar sua
real situação: estava num chiqueiro; aos olhos do patrão, era quase um porco
com os porcos. Era ainda pior, pois nem poderia comer a mesma comida que eles.
Ao ver-se como era, foi possível tomar o caminho de volta para casa.
Mas não gostamos de nos
humilhar diante de ninguém, ainda mais diante de Deus. A essência do ser humano
é querer ser Deus. O salmista diz: “Vocês são todos deuses, gostam de se achar
os filhos do Altíssimo. Mas é como homens que vocês vão morrer, em sua real
condição, pois pensam que são deuses, mas não são...” Pensemos agora em quantas
desculpas encontramos para justificar nossos pecados. “Não, Senhor, eu não
pequei. Foi a mulher que o Senhor me deu... Não, Senhor, eu não pequei, foi a
serpente que me enganou”. Humilhar-se diante de Deus é reconhecer onde
exatamente erramos. Onde é preciso consertar. Por isso é que temos, a cada
domingo, um momento de confissão no culto. Para não deixar a soberba humana e o
orgulho endurecerem nosso coração. Para reconhecer a soberania que é de Deus; a
santidade que emana dele. “Cair em si” é o primeiro passo para a cura divina.
Gosto muito dessa
expressão. Quando pedimos perdão a alguém, mas não o fazemos sinceramente, é
comum desviar o olhar. Buscar a face de Deus parece para mim o mesmo que dizer:
“olhar nos olhos dele”. Ir fundo no processo do arrependimento. Não é orar
formalmente, fazer por fazer, mas buscar aquilo que no momento parece distante
e escondido. O pecado, a desobediência fizeram o rosto de Deus desaparecer no
horizonte da vida do povo. Para retomar a vida, é preciso trazer esse rosto
novamente diante dos nossos olhos. É preciso encarar Deus, olho no olho,
demonstrar a ele nosso sincero arrependimento. Para isso, é preciso intimidade.
É difícil encarar o estranho olho no olho. Porque isso revela nossa alma.
Olhando nos olhos de alguém é difícil esconder a emoção, dissimular, mentir.
Deus quer nos curar, mas para isso ele quer olhar nos nossos olhos, ter
intimidade conosco, entrar nos nossos sentimentos mais profundos do coração. O
povo que conhece o nome do seu Deus sabe que esse nome indica misericórdia e
favor. Por isso, esse povo ora; busca a face de Deus, encara seu olhar. Um
olhar que não é de cobrança ou ira, mas de amor, como Jesus fez com o jovem
rico certa vez. Depois de cair em si, é preciso encarar Deus olho no olho. Esse
é o caminho da cura.
E se converterá do mau
caminho dele
Esse é o momento da
virada; a cura final para a desobediência é fazer meia-volta nesse caminho. A
conversão é uma nova direção de vida. A palavra “mau” que aqui aparece
demonstra a essência do caminho do povo distante de Deus. Não é apenas uma
prática, mas é um caráter mau que existe no caminho da desobediência. É uma
essência de morte. Não dá pra prosseguir assim. É preciso dar meia-volta. Se
alguém está doente porque determinada comida lhe faz mal, não adianta mudar o
tempero. É preciso parar de comer aquilo. O pecado não pode ser disfarçado sob
outro nome ou outra prática. Ele é mau em essência; tem que ser deixado!
Converter-se é a conseqüência natural de “cair em si” e olhar nos olhos de
Deus. Ao olhar para mim e olhar para Deus, não existe alternativa possível para
mim: sou como que obrigada a me converter a ele, pois sou interiormente convencida
de que esse é o único caminho possível de vida!
Então eu ouvirei,
perdoarei e sararei
Muita gente acha que
Deus não pode ou não quer ouvir. Muita gente confia apenas em seus próprios
sentimentos. Já ouvi até alguém dizer: “Deus pode até me perdoar, mas eu não me
perdôo”. Deus, ao contrário do que pensamos, está mais do que disposto a
perdoar. Tanto que ele deu essa receita de cura para o povo antes mesmo que ele
pecasse. Deus ensinou a cura antes mesmo que a doença surgisse! Por isso, ele
diz: Eu ouvirei. Ouvir é fácil. Às vezes, podemos errar contra alguém e essa
pessoa pacientemente nos escuta pedir perdão. Ela observa nosso choro. Sente
nosso tremor. Mas não aceita nosso pedido. Deus ouve e dá um passo além:
perdoa. Ele age para mudar a situação gerada pela morte, pela desobediência,
pelo pecado. E mais: ele sara a ferida que a desobediência causou. É como uma
mãe que alerta o filho para uma brincadeira perigosa, mas jamais se recusa a
passar remédio na ferida ou dar um beijinho pra sarar.
Conclusão
Deus não recusa seu
amor só porque uma vez o desobedecemos. O caminho da cura é um caminho aberto
para nós, porque Deus nos dá a receita. Ele nos convida a evitar o pecado e as
conseqüências trágicas do pecado em nossa vida. Mas, se pecarmos, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça. Deus não
apenas ouve, não apenas perdoa, mas dá a real chance do recomeço.
E o mais interessante a
se destacar: é uma cura completa. No caso do povo, não apenas o perdão do
pecado, mas a volta para a casa depois do exílio, a reconstrução das casas, a
retomada das plantações, das chuvas, da fertilidade, da saúde tirada pela
peste. Não apenas nossa vida eterna, mas nossa família, nosso trabalho, nossa
dignidade como seres humanos, nossa vida na sociedade hoje e agora. O caminho
para a cura, porém, passa por esses pontos fundamentais: humilhar-se, buscar a
face de Deus e fazer a volta no caminho mal. Queremos a cura de Deus para nossa
vida? Vamos aviar a receita divina, fazendo dela uma prática constante em nosso
caminho; mais ainda, vamos ouvir o conselho divino e permanecer na saúde
espiritual, fugindo dessa doença mortal chamada pecado. Deus é conosco...
BISPO/JUIZ. MESTRE E
DOUTOR EM ÊNFASE E DIVINDADES DR.EDSON CAVALCANTE
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