AMIGOS VERDADEIROS...
INTRODUÇÃO
No dia 20 de julho foi
comemorado o dia da amizade, dia em que muitas mensagens foram trocadas entre
amigos. Recebi algumas mensagens muito interessantes o que me levou a refletir
sobre a amizade verdadeira. Lembrei-me então de dois personagens bíblicos em
especial, Davi e Jônatas. A amizade entre Jônatas e Davi era uma aliança de
amor, um exemplo de amizade que tem muito a nos ensinar sobre o real
significado e importância da amizade verdadeira.
Na literatura das
ciências sociais que tratam sobre o tema, a amizade é vista em geral como uma
relação afetiva e voluntária, que envolve práticas de sociabilidade e ajuda
mútua e necessita de algum grau de equivalência ou igualdade entre amigos.
A Amizade é um bem que
infelizmente tem se tornado cada vez mais difícil de ser encontrado. Muitos se
chamam amigos, mas a palavra já perdeu muito de seu real significado.
A palavra amigo é cheia
de significado como se pode ver pelo texto de I Sm. 18.1: ”Sucedeu que,
acabando Davi de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e
Jônatas o amou como à sua própria alma.” Esta passagem nos mostra que uma
amizade verdadeira é estabelecida por um vínculo muito forte, o vínculo do amor
fraternal.
I – Uma Amizade
Verdadeira Pode Trazer Riscos
A amizade que nasceu no
coração de Jônatas e Davi era algo tão profundo que levou Jônatas a arriscar-se
em favor de seu amigo. Em I Sm 20.33 Saul tenta matá-lo por estar defendendo
Davi: “Então, Saul atirou-lhe com a lança para o ferir; com isso entendeu
Jônatas que, de fato, seu pai já determinara matar a Davi.” Jônatas, que
parecia ter dificuldades em acreditar que seu pai ainda queria matar a Davi (I
Sm 20.2: “Ele lhe respondeu: Tal não suceda; não serás morto. Meu pai não faz
coisa nenhuma, nem grande nem pequena, sem primeiro me dizer; por que, pois,
meu pai me ocultaria isso? Não há nada disso.”), agora tinha motivos de sobra
pra crer que Saul estaria pronto a tudo para eliminar Davi, até mesmo matar seu
próprio filho. A princípio Jônatas tinha porque duvidar que seu pai ainda
quisesse matar Davi, pois ele havia lhe jurado que não o faria (I Sm. 19.6: “
Saul atendeu à voz de Jônatas e jurou: Tão certo como vive o Senhor, ele não
morrerá.”). Porém as atitudes de Saul durante a Festa de Lua Nova não deixavam
mais dúvidas de que aquele juramento não seria cumprido.
Jônatas agora sabia que
se sua amizade com Davi fosse mantida ele corria risco de vida. Contudo isso
não foi razão forte o suficiente para abalar aquela aliança de amor
firmada entre Jônatas e
Davi. Jônatas não estava disposto a abrir mão desta amizade por coisa alguma.
Davi também correu
riscos em virtude de sua amizade com Jônatas. Após a morte de Jônatas Davi
procurou saber se ainda havia algum descendente de Saul vivo: Disse Davi: Resta
ainda, porventura, alguém da casa de Saul, para que use eu de bondade para com
ele, por amor de Jônatas?” II Sm. 9.1. Ao ser informado de que havia um filho
de Jônatas vivo Davi o levou para morar no palácio e comer da sua
mesa:”Trabalhar-lhe-ás, pois, a terra, tu, e teus filhos, e teus servos, e
recolherás os frutos, para a casa de teu senhor tenha pão que coma; porém
Mefibosete, filho de teu senhor, comerá pão sempre à minha mesa. Tinha Ziba
quinze filhos e vinte servos”. II Sm. 9.10. O mais comum em uma situação como
aquela seria procurar eliminar todos os descendentes de Saul já que estes
poderiam procurar promover um levante ou o assassinato de Davi para recuperar o
trono, no entanto, Davi ao invés de temer perder o trono e quem sabe a sua
própria vida corre o risco por amor a Jônatas. Ë preciso lembrar que Jônatas
era amigo de Davi e o amava, mas Mefibosete não necessariamente.
No Novo Testamento nós
também temos o exemplo de Epafrodito que foi outro a não se importar em correr
riscos por uma verdadeira amizade. Paulo era acusado de traição ao Império
Romano, e esta era uma acusação grave. Paulo poderia ser condenado a morte e,
quando um prisioneiro era condenado a morte, quem estava com ele deveria morrer
também. Mesmo sabendo disso, Epafrodito abandona sua cidade, sua casa, todos os
seus e vai para Roma cuidar de Paulo. Isso é amizade verdadeira, isso é
comprometimento. Que coisa maravilhosa é ter amigos assim. Felizes são aqueles
que podem ser e contar com amigos deste porte.
II – Uma Amizade
Verdadeira Põe seus Interesses Pessoais em Segundo Plano.
Parece que Jônatas era
o príncipe herdeiro pois Saul lhe diz que enquanto Davi vivesse nem Jônatas e
nem seu reino estariam seguros (I Sm 20.31: “Pois, enquanto o filho de Jessé
viver sobre a terra, nem tu estarás seguro, nem seguro o teu reino; pelo que
manda busca-lo, agora, porque deve morrer.” ). Davi era portanto uma ameaça a
Jônatas e consequentemente a toda a sua posteridade já que se Davi assumisse o
trono Jônatas não seria o próximo rei, seu filho não seria o príncipe herdeiro
e assim por diante.
No entanto, ao invés de
odiar Davi e tentar elimina-lo, ele o ama e protege. Eliminar Davi não seria
difícil já que ele dispunha de informações privilegiadas a respeito de Davi e
este confiava nele. Davi fugiria de Saul, mas não de Jônatas. Pior do que um
inimigo é um falso amigo. Dizem que um sábio antigo orava pedindo a Deus que
cuidasse de seus amigos pois dos inimigos ele era capaz de cuidar. Se Jônatas
fosse um falso amigo, se Jônatas se deixasse levar por interesses pessoais Davi
estaria correndo serio risco. E é preciso lembrar que o interesse pessoal de
que estamos falando não era uma coisa qualquer, era o trono de Israel.
Muito triste é quando
se confia em alguém, o tem como amigo sincero, como irmão e se vê traído pelo
mesmo ter se deixado levar por interesses, por benefícios muito menores que
aquele do qual Jônatas estava abrindo mão. Infelizmente isto não é algo
incomum. Jônatas sabia que pessoas valem mais que coisas, mais que posição.
Para Jônatas o trono não era mais importante que a amizade de Davi.
III – Uma Amizade
Verdadeira Está Firmada num Firme e Sincero Amor
Esta característica da
verdadeira amizade é o vínculo da mesma. Foi o amor que moveu Jônatas a por sua
vida em risco e com certeza foi um amor sincero e firme que moveu Epafrodito a
viajar cerca de 2.000 Km da Macedônia a Roma para cuidar de Paulo, podendo com
isso perder muito, inclusive sua própria vida, seja através de um acidente
durante a viagem, uma enfermidade contraída – o que acabou acontecendo e quase
o ceifou ( Fp 2.27: Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu
dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza
sobre tristeza.) – ou ainda pela condenação de Paulo.
Foi o amor que moveu
tanto Jônatas quanto Epafrodito a deixar interesses pessoais para cuidar dos
interesses do objeto de seu amor. Paulo em I Co. 13.4 e 5 diz o seguinte: “O
amor ……. não procura os seus interesses, ….” . Isso era uma realidade na vida
destes amigos.
Jônatas estava pronto a
abrir mão do trono, enquanto que Epafrodito abriu mão de trabalho, presença da
família e dos irmãos da Igreja. Paulo diz que enviou Epafrodito de volta a
Macedônia pois este estava com saudades da Igreja ( Fl. 2.25, 26: “Julguei,
todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão,
cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso mensageiro e vosso
auxiliar nas minhas necessidades; Visto que ele tinha saudade de todos vós e
estava angustiado porque ouvistes que adoeceu.”). Vejam que a amizade era
recíproca pois Paulo abre mão de sua ajuda para que ele pudesse visitar os seus
e sua igreja.
Quando o amor fraternal
rege os relacionamentos, há paz, respeito, sinceridade, transparência. Aquele
amor foi algo tão significativo na vida de Davi e Jônatas que Davi ao saber da
morte do Jônatas afirma: “Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; tu eras
amabilíssimo para comigo! Excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de
mulheres”. (II Sm. 1.26).
Lamentavelmente esta
passagem, e de modo geral a amizade entre Jônatas e Davi, é muito mal
interpretada por alguns que erotizam o amor entre Davi e Jônatas. No Entanto, a
luz do ensino geral das Escrituras fica claro que o amor que unia Jônatas e
Davi era o amor fraternal.
IV – Uma Verdadeira
Amizade é Fiel
Jônatas e Davi tinham
uma aliança. Em I Sm. 18.3 é dito que Davi e Jônatas fizeram aliança (“Jônatas
e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como a sua própria alma”). A
natureza da aliança não é aqui declarada de modo explícito, mas creio que
podemos inferir ser uma aliança de amor fraternal, ou seja, uma aliança de
amizade.
Nossa conclusão pode
ser atestada pelo que encontramos no capítulo 20 verso 8: “ Usa, pois, de
misericórdia para com o teu servo, porque lhe fizeste entrar contigo em aliança
no Senhor; se, porem, há em mim culpa, mata-me tu mesmo; por que me levarias a
teu pai?” . Ali vemos Davi evocando a aliança entre eles para pedir sua ajuda.
Jônatas não se furta da aliança, mesmo sendo aquele um momento muito delicado
onde muitas perdas e muita dor poderia ser experimentada, como já pudemos
considerar acima.
Jônatas não só mantêm a
aliança como a renova e amplia nos versos 16 e 17: “Assim, fez Jônatas aliança com
a casa de Davi, dizendo: Vingue o Senhor os inimigos de Davi. Jônatas fez jurar
a Davi de novo, pelo amor que este lhe tinha, porque Jônatas o amava com todo o
amor da sua alma”. Os versos seguintes mostram que o que havia sido combinado
foi fielmente cumprido da parte de Jônatas e a passagem encontrada em II Sm. 9
mostra que Davi foi fiel a aliança que tinha com seu amigo Jônatas mesmo após
sua morte. Ao saber que havia um filho de Jônatas vivo providencia para que ele
recebesse tudo de que fosse necessário para ele e para os seus (II Sm 9.9, 10:
“Chamou Davi a Ziba, servo de Saul, e lhe disse: Tudo o que pertencia a Saul e
toda a sua casa dei ao Filho de teu senhor. Trabalhar-lhe-ás, pois, a terra,
tu, e teus filhos, e teus servos, e recolherás os frutos, para que a casa de
teu senhor tenha pão que coma; porém Mefibosete, filho de teu senhor, comerá
pão sempre à minha mesa. Tinha Ziba quinze filhos e vinte servos”) .
Uma verdadeira amizade
é marcada pela fidelidade.
Conclusão
Amigo é aquele com quem
podemos ser nós mesmos. Ser nós mesmos implica uma apresentação sem reservas e
espontânea de si mesmo, sem o autocontrole exigido pelas regras da polidez. Li
certa vez que amigo é aquele com quem se pode pensar alto.
Amizade em nossos dias,
em muitos casos, significa se aproximar de alguém que pode oferecer algo.
Quando não tem mais o que oferecer deixa de ser amigo e aquele que até então
não era amigo mas agora tem algo a oferecer, passa a ser o amigo da vez.
Salomão fala sobre isso de modo claro em pelo menos duas passagens de
Provérbios: Pv. 19.4, 6 – “As riquezas multiplicam os amigos; mas, ao pobre, o
seu próprio amigo o deixa… Ao generoso, muitos o adulam, e todos são amigos do
que dá presentes”.
O cachorro e o gato são
interessantes ilustrações do que acabamos de dizer: Alguém já viu andarilhos ou
moradores de rua com gatos? Certamente não, mas todos já os vimos com
cachorros. Um cão morre de fome ao lado de seu dono, mas não o abandona,
enquanto que o gato segue o primeiro que lhe oferecer comida. Vê-se que quando
alguém quer ofender um falso amigo chamando-o de cachorro comete uma grande
injustiça (com os cachorros, é claro).
Que tipo de amigo você
tem sido e que tipo de amigos você tem ao seu redor? Que Deus faça de nós
amigos de verdade e assim também nos dê amigos com quem tenhamos uma real
aliança de amor fraternal.
Só pode ser amigo de
verdade aquele que confia no Senhor, aquele que sabe que Deus está no controle
de todas as coisas e que cuida dos seus. Em Pv. 29.25 encontramos as seguintes
palavras: “Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no Senhor está
seguro”. Quem confia no Senhor não precisa de armações, associações com falsas
amizades pois ele tem a sua vida confiada no Senhor. Só este consegue ser amigo
de verdade, sem medo de ser traído, sem medo de ser passado pra traz, sem busca
de interesses pessoais.
“Em todo tempo ama o
amigo, e na angústia se faz o irmão” Pv. 17.17...
BISPO/JUIZ. MESTRE E
DOUTOR EM ÊNFASE E DIVINDADES DR.EDSON CAVALCANTE
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