A PROSPERIDADE É
UMA CONSEQUÊNCIA DE INTIMIDADE COM O PRÓPRIO DEUS...
"Pois quanto o céu está
elevado acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para os que o
temem" (Sl 103
Cinco termos hebraicos que descrevem a
prosperidade no Antigo Testamento
1. Tsālēach: a prosperidade como
fruto de uma vida bem-sucedida. No Antigo Testamento a palavra hebraica mais
comum para descrever a prosperidade é tsālēach, isto é,"ter sucesso",
"dar bom resultado", "experimentar abundância" e
"fecundidade". Esse termo é usado em relação ao sucesso que o Eterno
deu a José (Gn 39.2,3,33) e a Uzias (2 Cr 26.5). No contexto bíblico, a
verdadeira prosperidade material ou espiritual é resultado da obediência, temor
e reverência do homem a Deus. A Escritura afirma que Uzias "buscou o
SENHOR, e Deus o fez prosperar". A prosperidade de Uzias nesse período foi
extraordinária. Como rei desfrutou de um sucesso e progresso imensurável (2 Cr
26.7-15). Deus deu-lhe sabedoria para desenvolver poderosas máquinas de guerra
para proteger Jerusalém (vv.14,15). A prosperidade de Uzias era subordinada à
sua obediência a Deus. O profeta Zacarias o instruía no temor do Senhor, razão
pela qual o monarca prosperou abundantemente. O homem verdadeiramente próspero
é como a "árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto
na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer
prosperará" (Sl 1.3). Porém, a soberba destronou o rei de seu palácio e
prosperidade (confira shālâ).
2. Chāyâ: a prosperidade de uma
vida longeva. Um outro termo hebraico que descreve a vida próspera é chāyâ.
Literalmente a palavra significa "viver" ou "permanecer
vivo", entretanto, em certos contextos significa "viver
prosperamente": "Até que eu venha e vos leve para uma terra como a
vossa, terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas, terra de oliveiras,
de azeite e de mel; e assim vivereis e não morrereis" (2 Rs 18.32). Em 1
Samuel 10.24, a frase "Viva o rei!", quer dizer "Viva
prosperamente o rei!"; "Viva o rei em prosperidade". Nesses dois
contextos, chāyâ se refere à "fartura de dias",
"longevidade", "livrar-se da morte" e, consequentemente,
"prosperidade". O termo também relaciona-se à saúde física e a cura
de enfermidades. Em Js 5.8, o termo é traduzido por "sarar",
"recuperar a saúde".
3. Śākal: a sabedoria que traz
prosperidade. Um outro termo muito significativo no Antigo Testamento é śākal.
Textualmente significa "ser sábio", "agir sabiamente" e,
por extensão, "ter sucesso". Esta palavra está relacionada à vida
prudente, ao agir cautelosa e sabiamente em todos os momentos e circunstâncias.
Um exemplo negativo que serve para ilustrar a importância do que estamos
afirmando é o marido de Abigail. Nabal, do hebraico nābāl, ipsis litteris,
"louco", "imprudentes", "tolo", demonstrou imprudência,
tolice e loucura ao negar socorrer a Davi em suas necessidades. Embora rico,
não era sábio e prudente (1 Sm 25.10-17); sua estultice quase o leva à morte
pelas mãos de Davi, mas não impediu que o mesmo fosse morto pelo Senhor (1 Sm
25.37,38). Nabal não agiu com śēkel, isto é, "sabedoria",
"prudência"; não procedeu prudentemente, portanto, "não teve
sucesso", "não foi próspero". Davi, por outro lado, viveu
sabiamente diante de Saul, dos exércitos de Israel, do povo e diante do próprio
Senhor: "E Davi se conduzia com prudência [śākal] em todos os seus
caminhos, e o Senhor era com ele" (1 Sm 18.14 ler vv.12,15). Nesses
versículos temos a relação mútua entre dois conceitos: O Senhor era com Davi,
razão pela qual o filho de Jessé foi prudente em suas ações; Davi era sábio,
justo e prudente, motivo pelo qual o Senhor era com ele. Em alguns textos śākal
diz respeito à prosperidade que advém do comportamento sábio e prudente.
4. Shālâ: o estado de
imperturbabilidade da prosperidade. O vocábulo procede de uma raiz da qual se
deriva as palavras "tranquilidade" e "sossego". O termo
significa "estar descansado", "estar próspero",
"prosperidade". O termo também diz respeito à prosperidade do ímpio
(Jr 12.1). Porém, o foco que pretendo destacar é o flagrante estado de
"imperturbabilidade" que pode levar ao orgulho. No Salmo 30. 6 o
poeta afirma: "Eu dizia na minha prosperidade [shālâ]: Não vacilarei
jamais". Derek Kidner (1981, p.148) afirma que a raiz hebraica que dá
origem a palavra prosperidade nesse versículo refere-se às "circunstâncias
fáceis, ao ponto de vista despreocupado, ao descuido e à complacência
fatal" (Jr 22.21; Pv 1.32). Provérbios 1.32 revela com muita propriedade
que "a prosperidade dos loucos os destruirá". O Salmo 30 descreve o
louvor pelo recebimento da cura divina e pelo livramento da morte:
"Senhor, fizeste subir a minha alma da sepultura; conservaste-me a vida
para que não descesse ao abismo" (v.3). A salmodia foi composta logo após
o restabelecimento da saúde física do salmista. Neste poema, o rap sodo fala a
respeito de sua prosperidade e de como sentia-se seguro, tranquilo e
imperturbável até que a calamidade adentrou nos umbrais de sua frágil vida e
seu orgulho e confiança na riqueza foram abatidos. A confiança na estabilidade
da prosperidade cede lugar à confiança inabalável na bondade divina:
"Ouve, Senhor, e tem piedade de mim; Senhor, sê o meu auxílio"
(v.10). O patriarca Jó também alude ao "descanso" e
"tranquilidade" advindas da prosperidade e como de súbito foi
apanhado pelas adversidades: "Descansado [shālâ] estava eu, porém ele me
quebrantou" (Jó 16.12a). Paulo, muito tempo depois orienta ao jovem pastor
Timóteo para que exorte os ricos a não porem a esperança na incerteza das
riquezas, mas em Deus, que abundantemente dá todas as coisas (1 Tm 1.17). A
prosperidade anunciada por meio do vocábulo shālâ pode produzir, como afirma o
teólogo Victor Hamilton, "despreocupação" (Ez 23.41; Pv 1.32).
Portanto, esse termo afirma o perigo que subjaz na prosperidade. Esta não deve
substituir a confiança em Deus e nas santas promessas das Escrituras.
5. Dāshēm: a prosperidade
abundante. Este termo é mais frequente nos textos poéticos do que nos
prosaicos. Logo, trata-se de um vocábulo poético e idiomático hebreu.
Literalmente significa "engordar", "ser gordo" e,
consequentemente, "ser próspero". Em nossa obra, Hermenêutica Fácil e
Descomplicada (CPAD) explicarmos detalhadamente o hebraísmo "gordura"
nas páginas 212, 213, 214 e 215. O Salmo 63.5, por exemplo, diz: "A minha
alma se farta, como de tutano e de gordura [dāshēm]; e a minha boca te louva
com alegres lábios". O hebraísmo dāshēm, isto é, gordura, descreve duas
verdades concernentes à prosperidade: suficiência e sentimento de bem-estar
advindo da prosperidade. Em Gênesis 41 aprendemos que as vacas gordas
representam prosperidade, suficiência, abundância e felicidade (vv.26,29),
enquanto as magras, necessidade, escassez, fome e tristeza (vv.27,30). Imagens
como essas eram frequentes no Crescente Fértil. Nos períodos áureos, o gado,
sempre gordo, refletia a prosperidade da terra, trazendo alegria a seus
proprietários, enquanto o rebanho magro refletia a miséria e infortúnio. Desde
então, os judeus, nada afeitos a termos abstratos, preferiram designar a
prosperidade utilizando-se de imagens como gordura, vacas gordas e tutanos
(gordura do interior dos ossos). Veja, por exemplo, a bênção de Isaque sobre o
seu filho: "Assim, pois Deus te dê do orvalho do céu, da gordura da terra,
e da abundância de trigo e mosto" (Gn 27.28 Edição Contemporânea de
Almeida). Na tradução, a ARA (Almeida Revista e Atualizada) omite o hebraísmo
"gordura da terra", mas traduz por "exuberância da terra".
Embora o termo hebraico em Gênesis seja outro, participa do mesmo campo semântico
de dāshēm, gordura, assim como o vocábulo chādal, isto é, ser gordo ou
próspero. Este termo, por sua vez, diz respeito a prosperidade abundante, que
salta aos olhos e traz extrema felicidade e contentamento (Pv 11.25; 13.4)...
BISPO/JUIZ. MESTRE E DOUTOR EM
ÊNFASE E DIVINDADES DR. EDSON CAVALCANTE
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