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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

JESUS NO EGITO...


                                                           JESUS NO EGITO...
A fuga de Jesus para o Egito, levado por seus pais, José e Maria, ocorreu, logo após a visita dos três magos. Herodes tentou enganá-los para descobrir o lugar onde Jesus nasceu, e para posteriormente vir a matá-lo.
Conforme ocorrido no nascimento de JESUS CRISTO, José foi avisado em um sonho, e toda a família do Salvador fugiu apressadamente para o Egito. Apesar da maior parte da liturgia bíblica, e até mesmo dos mandamentos que Deus deu ao Seu povo Israel, ser relacionada com a libertação dos Hebreus do Egito, aquele país foi local de refúgio para os Israelitas por várias vezes.
É curioso saber que José e Maria, e mais agora o ainda bebê Jesus (com aproximadamente dois anos), tenham feito a rota de fuga para o Egito, justamente o mesmo que havia ocorrido com os patriarcas Abraão e Jacó, o que posteriormente deu origem ao povo de Israel (nesta época, a nação israelita era ainda “uma criança”).
Agora, o Messias, o rei de Israel, Jesus Cristo, ainda uma criança, toma a mesma trajetória dos seus antepassados, buscando refúgio no Egito, para depois de lá sair. Qual seria a rota mais provável que uma família poderia fazer para escapar rapidamente e com segurança da perseguição de Herodes?
Venhamos a explorar as prováveis rotas para chegar ao Egito, saindo de Israel, e logo em seguida façamos uma abordagem da matança dos meninos em Belém, e analisemos também a profecia de Oseias 11:1, “do Egito chamei o meu filho”.

A rota para o Egito

Dentre os possíveis motivos para a família de Jesus escolher o Egito para se refugiar, podemos destacar as seguintes:
  • O Egito estava próximo a Israel;
  • A região do rio Nilo era um dos locais mais férteis do Mediterrâneo, sendo considerada o celeiro do Império Romano;
Na linguagem popular da época, “o pão de Roma vinha do Egito“, por isso, quando havia mudança do poder em Roma, seus imperadores visitavam o Egito para reafirmar o controle sobre a sua produção agrícola, como ocorreu com os Generais Otaviano e Marcus Aurélio, episódio histórico que envolveu a última Faraó do Egito, Cleópatra e as Batalha de Actium, próximo à Grécia.
Então, podemos traçar algumas rotas que possivelmente foram usadas para chegar ao Egito, pois essas eram as que eram comuns naquele tempo. Vou tentar descrevê-las e assinalar no mapa que postarei logo abaixo.

A rota para o Egito, usando um jumentinho

A primeira rota para o Egito seria partindo das montanhas da Judéia, de jumentinho, como é amplamente encontrado nas ilustrações e desenhos que retratam a fuga para o Egito. Levaria no mínimo duas semanas para percorrer toda a distância entre os dois países.
E eles poderiam ter descido da região das montanhas centrais de Israel, indo para a planície costeira, ao encontro do “caminho do mar”, uma rota muito bem estabelecida, que o Romanos chamavam de Via Mares. Esta rota descia até o Egito.
Outra rota seria pelo deserto. Eles teriam que descer até a cidade de Eilat, no Golfo de Ácaba, às margens do Mar Vermelho, para encontrar o chamado “caminho do rei”, que era uma “estrada” ou via, que vinha do planalto da Jordânia, e depois atravessar a Península do monte Sinai. Essa rota era muito longa e perigosa, por isso provavelmente eles não fariam.

A fuga poderia ter sido de barco

Eles também poderiam ter descido para o porto de Jope (Iafo ou Jafa), e dali ter subido em um barco até o porto de Alexandria no Egito. Faz sentido essa rota de barco, porque eles precisavam de uma fuga rápida, pois Herodes os procurava para matar o menino Jesus, e viajar por duas semanas com um bebê de dois anos com a ajuda de apenas um jumentinho seria muito sacrificante para a família.

Do Egito chamei o meu filho

Então, em Mateus 2:14-15, nós vemos que o evangelista faz uma conexão entre o texto do Profeta Oseias 11:1, e a fuga de Jesus para o Egito. Vamos ver esses versos? Está aqui abaixo o de Mateus:
E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito.
E esteve lá, até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito chamei o meu Filho.
Mateus 2:14,15
E agora vamos ver o texto de Oseias:
Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho.
Oséias 11:1
Como podemos ver, ao comparar os dois versos, alguns vão estranhar (principalmente os Judeus Ortodoxos), que Mateus esteja usando a metade de um texto que se refere ao povo de Israel, quando ainda estava na escravidão do Egito.
Vamos ver mais um texto que atribui a Israel, o título de filho de Deus:
Então dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito.
E eu te tenho dito: Deixa ir o meu filho, para que me sirva; mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que eu matarei a teu filho, o teu primogênito.
Êxodo 4:22,23
Agora, se Israel é o filho primogênito de Deus, como esses versos demonstram, por que Mateus aplica essas passagens a Jesus Cristo?

A importância da Tradição Oral para a interpretação da Bíblia

Antes de entrarmos nas considerações sobre a nossa pergunta formulada acima, temos que ter em mente que na época de Jesus e dos Apóstolos (que é o primeiro século, também chamado de período do segundo Templo), a Tradição Oral era muito difundida entre os Judeus, e eles usavam dessa tradição para interpretar os textos bíblicos.
Veja o livro de Judas, quando se refere à morte de Moisés, “Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés…” Judas 1:9. A Bíblia que temos hoje (que são os textos considerados canônicos), não relata essa disputa. Então de onde Judas tirou essa ideia da luta do arcanjo pelo corpo de Moisés.
Temos também na segunda carta de Pedro, “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo.” 2 Pedro 2:4 – esse texto faz referência ao que está escrito no livro de Enoque, que também não é canônico, mas faz parte da Tradição Oral do primeiro século.
E Mateus, influenciado pelas tradições judaicas, escreve como um Judeu, para outros Judeus, o seu Evangelho. Ele usa de uma Tradição, que até mesmo o Apóstolo Paulo também se utiliza para dizer que Jesus é “imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação“. Colossenses 1:15.
No caso, é a tradição de um personagem conhecido como metraton na tradição judaica. Esse nome vem de duas palavras gregas, Meta (ao lado) e Tronos (trono), que conjuntamente significam “aquele que ocupa o trono ao lado do trono de glória”. Trata-se do Anjo do Senhor que aparece no texto de Êxodo 23:21:
Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que te tenho preparado.
Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz, e não o provoques à ira; porque não perdoará a vossa rebeldia; porque o meu nome está nele.
Êxodo 23:20,21
Veja que esse anjo tem o poder de PERDOAR, ou não o pecado, como diz o verso acima, “…porque não perdoará…”. Me faz lembrar de Jesus quando disse ao paralítico de Cafarnaum, “os teus pecados estão perdoados“, e a multidão murmura em seus corações, “como assim? Só Deus perdoa pecados“.
E eles estavam certos, porque Jesus era, e é Deus!
O mesmo ocorre com este “Anjo do Senhor”. Ele perdoa pecados e o próprio nome do Eterno Deus está Nele, como está escrito, ” …porque o meu nome está nele“. Ou seja, este anjo é uma teofania, uma manifestação do próprio Deus.
E a tradição o chama de Metatron. Mas o que isso tem a ver com o texto de Mateus, “do Egito chamei o meu filho“?

O filho primogênito de Deus

Então, voltando ao assunto, Israel é o primogênito de Deus, ou é Jesus? Quem na tradição judaica é o filho primogênito de Deus? Não é meio confuso essa citação de Oseias 11:1 por Mateus?
Na Tradição Oral Judaica, há um livro (Zohar, vol. 3. Ra’aya Mehaimna, pág. 227, edição de Amsterdã), que diz que o “Filho de Deus” é uma figura chamada de “Metatron”. E este “Metatron” é também o “Pilar do Meio”, na composição da Divindade (alguns chamam de Trindade).
Este livro diz também que este personagem “Metatron” é o primogênito de toda a criação, (Zohar, Gen. ; Midrash HaNe’elam ; P. 126 edição de Amsterdã).
Assim, na tradição Judaica, ambos Israel e Metatron são identificados como sendo o “filho primogênito de Deus”. Então, quando Deus diz em Êxodo 4:23-23 e em Oseias 11:1 que Israel é o Seu filho primogênito, Ele está usando uma linguagem alegórica. Ele está comparando Israel a este personagem da tradição oral, Metatron.
Por isso, quando Mateus cita Oseias e aplica aquele texto a Jesus, ele está na verdade se referindo à alegoria que está por detrás daqueles versos. Mateus, Judeu, que usava a tradição oral, está ligando os pontos, trazendo para o mundo palpável, a alegoria que envolve Israel / Metatron (o que perdoava pecados) e Jesus como o Filho de Deus.
Mas como Jesus, alegoricamente é semelhante a Israel?
  1. Ambos impactaram profundamente o mundo inteiro;
  2. Ambos tiveram um nascimento miraculoso (de uma mulher estéril, Sara, e de uma virgem, Maria);
  3. Ambos foram levados para o Egito, na infância, no início de suas histórias;
  4. Ambos foram para o Egito para preservar suas vidas;
  5. Ambos foram chamados para saírem do Egito;
  6. Ambos são rejeitados pelos homens;
  7. Ambos sofreram tentativas de morte, ou destruição.

A matança dos meninos de Belém

Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito, e mandou matar todos os meninos que havia em Belém
Mateus 2:16

Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que diz:
Em Ramá se ouviu uma voz, Lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, E não quer ser consolada, porque já não existem.
Mateus 2:17,18

Mateus 2:18 Raquel chorando por seus filhos

Esta passagem é uma profecia do livro de Jeremias 31:14-15. O sentido literal deste texto se refere a Raquel chorando pelos seus filhos, que aqui é o reino do Norte, também chamado de reino de Israel. Depois que Salomão morreu e seu filho Roboão assumiu em seu lugar, o reino foi dividido em duas partes.
Duas tribos e meia (Judá, Simeão e metade de Benjamim), formaram o Reino do Sul, chamado de Reino de Judá. As dez tribos e mais a outra metade de Benjamim formaram um segundo reino, o Reino do Norte, ou o Reino de Israel.
Em aproximadamente 722 antes de Cristo, os Assírios invadiram o Reino do Norte e os levaram cativos. Por isso, novamente Mateus está usando o nível de interpretação de textos Hebraicos chamado de Derash, que é o nível alegórico.
Na alegoria de Mateus, Herodes vem a se tornar como Salmanasar, o rei da Assíria que ordenou a invasão do Reino do Norte de Israel e a morte dos Israelitas. Os “filhos de Raquel” são os meninos inocentes que o rei Herodes mandou que fossem mortos.
Essa alegoria é ainda mais intensificada pelo fato de Jesus ter nascido em Belém, e o túmulo de Raquel está bem próximo a este lugar.
O massacre dos inocentes também ecoa a morte dos recém nascidos no Egito, por ordem de Faraó, e que Moisés consegue sobreviver. É também referência a tentativa do rei Nimrod de matar o recém nascido Abraão, registrado no livro de Jazer 8:1-14, que já abordamos no estudo sobre os Magos.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

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