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quarta-feira, 21 de março de 2012

O DEUS QUE SUPRE OS AFLITOS...

Observai os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia, Deus os sustenta. Quanto mais valeis do que as aves! (Mt 12:24)

“Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida”? Pergunta profunda feita por Jesus Cristo a seus discípulos acerca da ansiosa solicitude pela vida. Aurélio conceitua ansiedade como “Sensação de receio e de apreensão, sem causa evidente, e a que se agregam fenômenos somáticos como taquicardia, sudorese, etc.” Já ouvimos pregadores afirmarem que Deus não trabalha na ansiedade. Porém, o mestre do amor, Jesus, veio para destruir as obras das trevas e para libertar os cativos. Ele mesmo afirmou que desceu como luz do mundo para os doentes e não para os sãos. A coerência é uma qualidade inerente à natureza divina. Deus não desprezaria seus filhos num momento tão difícil como aquele em que a falta de recursos materiais, espirituais e emocionais diminuem a fé e transportam a alma carente para a sensação de abandono. O profeta Isaías, movido pelo Espírito Santo, profetizou por volta de 800 a.C.: “Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas eu, o Senhor, os ouvirei; eu, o Deus de Israel, não os desampararei.” A ansiedade tem, como uma de suas causas, o sofrimento prolongado. Se nosso Deus é misericordioso, clemente, e que se compadece de seus filhos, porque desprezaria a coroa de sua criação em tempos de angústia? Sabemos que a Palavra de Deus foi escrita por homens escolhidos divinamente e toda Escritura foi inspirada pelo Espírito Santo. Entretanto, cada tradutor atribuiu o título que entendeu ser apropriado para determinado trecho. O título varia de acordo com a compreensão de cada editor ou tradutor. A versão traduzida em Português por João Ferreira de Almeida, na Linguagem Revista e Atualizada no Brasil, sintetiza o texto do capítulo 35 do livro de Jó como “Deus não houve os aflitos porque estes não têm fé”. Ora, se o profeta Isaías, inspirado divinamente escreveu que Deus ouve os aflitos e necessitados, o título sugerido por esse tradutor não encontra respaldo bíblico, devendo ser desprezado e não constituir em doutrinas ou orientações para a vida cristã e muito menos tema de pregação. A nossa única regra de fé e de conduta é a Bíblia, em seu texto original. Portanto, devemos considerar os títulos imputados às sagradas Escrituras como um pensamento humano sem a inspiração do Espírito. Os títulos são sugestões do autor, que podem não estar em conformidade com as Escrituras. É necessário cuidado ao interpretar textos fora de seu contexto, pois doutrinas e orientações devem ser desenvolvidas a partir da revelação geral e especial de Deus, considerando seus atributos revalados em sua Palavra, e não em conclusões humanas a partir de experiências pessoais ou coletivas.

Nos momentos de ansiedade, Deus trabalha a nosso favor. Ele não se cansa e seus olhos andam a procura daqueles cujo coração é totalmente dele. A angústia apenas nos impede de enxergar com olhos espirituais o agir de Deus. Todavia, Ele é fiel, mesmo que sejamos infiéis, porque não pode negar-se a si mesmo. Isaías afirmou que “agindo Deus, quem impedirá?” (Is 43:13). Paulo, por divina revelação, compreendeu que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em cristo Jesus, nosso Senhor.”(Rm 8:38). A excelência do amor de Jesus se revela num fazer, num agir. Ele, em sua encarnação, provou amar quando curou os doentes e possessos de espíritos malignos, se compadeceu da multidão quando não havia o que comer, e pregou as boas novas. O Messias que levou sobre si nossas enfermidades não nos deixaria só em circunstâncias regadas a ansiedade.

O que fazer para não passar por fenômenos somáticos e permitir que a fé deixe de ser o grão de mostarda que cresce e que se torna árvore produtora de sombra? É simples, porém exige vigor, pois Jesus ensinou que o reino dos céus é tomado por esforço. O comando messiânico para a era de aflição é ter bom ânimo. É tomar posse da Palavra que cria, transforma, alegra e alimenta a alma. O Apóstolo Paulo nos adverte “que por amor de Jesus somos entregues à morte o dia todo, e somos levados como ovelhas para o matadouro” (Rm 8:36). Sofremos, muitas vezes, por amor à seara de Cristo e desse sofrimento decorre a ansiedade. Porém, nessas horas, o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis e nos traz consolação e paz que excede todo entendimento.

“Eis que a virgem conceberá e dará a luz a um filho e será seu nome EMANNUEL” (Is7:14), que quer dizer Deus conosco. Ele habita num alto e sublime trono, mas habita com o aflito e contrito de coração. Ele é conosco, não apenas nos momentos de festa, mas, sobretudo, nos dias maus, que são muitos. “E seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz.” (Is.9:6). O peso do significado do nome de Jesus nos faz sair da dimensão da ansiedade e cultivar a fé no Todo-Poderoso, que ao olhar para o mundo pecador com misericórdia, enviou seu unigênito para alívio mediante o penhor do Espírito, outorgado em nosso coração. Jesus ilustra os cuidados de Deus com a vida dos corvos que não receberam a inteligência de plantar, colher e produzir alimentos para o corpo. Mesmo assim, são sustentados pelo poder divino e recebem a garantia da perpetuação de sua espécie. O nosso valor vai além daquele atribuído às aves do céu. Devemos entender que a angústia é sublimada pela doce melodia da confiança num Deus que mantém o universo em perfeita ordem. Dessa forma, abrimos nossa mente para a questão do sofrimento que faz parte do chamado de todos que querem viver piedosamente. Sem Jesus, nada podemos fazer e é ele, mediante nossa busca, que desarraiga a ansiedade com sua destra fiel. Com Jesus, suportamos a oposição do mundo aos valores eternos e sofremos perseguições sem nos deixar ser destruídos pela sensação do desamparo.

“Não vos assombreis e nem temais; acaso, desde aquele tempo não vo-lo fiz ouvir, não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas. Há outro Deus além de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça.” (Is 44:8). Rocha representa estabilidade e proteção e, por mais que muitas são as aflições dos justos, o Senhor de todas os livra (Sl 34:19). Somos justos porque reconhecemos o valor do sangue de Jesus, que nos limpa de toda injustiça e nos apresenta como irrepreensíveis diante do juiz de toda terra. Quando a ansiedade invadir nosso ser, façamos como o salmista, que conversou com a própria alma, lembrando-a de que a esperança no Senhor é o remédio para erradicar o temor. Ele perguntou: “Por que te abates ó minha alma?” Respondeu com a fé que agrada ao Senhor: “Espera em Deus, pois nele há copiosa redenção...”
BISPO/JUIZ.DR.EDSON CAVALCANTE

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