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segunda-feira, 14 de março de 2011

OS MALDITOS

OS MALDITOS

BISPO/JUIZ.DR.BENEDITO EDSON CAVALCANTE DA SILVA

17/10/2010

Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.
Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.
Gálatas 1:8,9

Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça
João 7:18


            Passava com minha esposa pela esquina de uma rua em minha cidade, quando deparamos com uma faixa estendida no pórtico de uma igreja dita evangélica, com os seguintes dizeres: “Oração forte, atendimento com revelação”. Muito embora ocorra já de maneira comum no meio evangélico, tais artifícios ainda me deixam muito incomodado sempre que os testemunho. As pessoas que ali “atendiam” estavam à porta, todas vestidas de branco da cabeça aos pés.

            Prometo não implicar com o “uniforme” dos irmãos, afinal existe gosto para tudo. Mas o que salta aos olhos é a flagrante corrupção dos princípios bíblicos, em detrimento de artifícios quase (eu disse quase?) estelionatários – 171 mesmo – para ganhar-se algum tipo de audiência, seja nas reuniões, seja nos meios de comunicação aí disponíveis.

            O termo “anátema” usado pelo apóstolo Paulo em seu inflamado apelo aos Gálatas, retrata de forma fiel o que estas pessoas têm praticado em nossos dias, do ponto de vista do reino de Deus. A palavra anátema, de acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (Vida Nova), é empregada por Paulo para definir a coisa amaldiçoada que foi à destruição. Aquele que prega um falso evangelho é entregue à destruição por Deus. A maldição expõe os culpados à ira judicial de Deus.

            Segundo os comentários de R. N. Champlin, no Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo (Candeia), o termo expressa algo para ser destruído; uma destruição neotestamentária está em foco, a saber, a perdição do juízo final, ou seja, a perda da graça, quando se torna – peço licença para uso do termo – desgraçado.

            Anátema, portanto, é a coisa ou a pessoa maldita, desgraçada (destituída da graça de Deus), entregue para a destruição, passível da ira do juízo de Deus.

            A aplicação de anátema no texto é claramente atribuída a todo aquele que anuncia outro evangelho (“anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado (...) Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema”).

            Que outro evangelho? Na situação em foco, estas pessoas as quais são omitidos seus nomes (talvez para preservar o cunho impessoal da questão) estavam persuadindo os crentes da Galácia a desprezarem os fundamentos da graça e da fé no reino de Deus trazido por Cristo, pelo fortalecimento de práticas judaizantes e do restabelecimento da lei mosaica. Para tanto, atacaram com veemência a pessoa e o trabalho do apóstolo Paulo no meio daqueles, com vários argumentos maliciosos; era necessário desautorizá-lo perante toda a igreja, negar sua dignidade apostólica.

            Assim como a questão da anulação da graça era – e continua sendo – um ensino pernicioso, existem hoje elementos peçonhentos, verdadeiras colocíntidas (2 Reis 4:40) que têm trazido morte na panela do povo de Deus.  A palavra “além” (v. 9) denuncia a estratégia do inimigo através de seus falsos mestres, cônscios ou não, sempre inventando penduricalhos doutrinários e dogmáticos, impondo aos mais incautos obrigações e restrições a seu bel prazer, tudo ao arrepio da sã doutrina.

            Com efeito, o apóstolo João em sua segunda carta, inspirado pelo mesmo Espírito, corrobora com a postura adotada por Paulo, como se vê:
Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.
Se alguém vem ter convosco, e não traz este ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis.
Porque quem o saúda participa de suas más obras.

2João 9-11

            Paulo não exclui nenhum ser vivente da condenação por esta prática delituosa, quando apresenta a figura de um anjo como a autoridade mais elevada possível, abaixo de Deus. Registros históricos nos dão conta de formação de castas de falsos mestres já no primeiro século da igreja neotestamentária, que se valiam dos nomes dos apóstolos para revestir-se de certa autoridade ao ministrar ensinos heréticos.

             Vale lembrar que o texto foi dirigido à igreja, e trata, assim como em toda a carta, da responsabilidade de todos os membros da congregação na preservação do evangelho genuíno. Isso quer dizer que os anátemas (malditos) a que o apóstolo se referia encontravam-se entre a liderança desta mesma igreja, juntamente com seus seguidores. Além disto, Paulo responsabiliza a congregação pela manutenção daqueles falsos mestres no ministério da igreja, seja pela omissão principalmente por parte dos líderes verdadeiros, seja pela leniência com que admitiam os ensinos estranhos sem a devida confrontação.

            Também vale dizer que os Gálatas já haviam sido orientados pelo apóstolo anteriormente à situação em questão (Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo...), fato este que exclui a possibilidade de erro pela ignorância por parte da congregação e conseqüentemente autoriza a devida cobrança pelo zelo, pela preservação de tudo quanto fora ensinado.

            A palavra, caro leitor, é firme e severa: Aqueles que trazem outro evangelho além do que temos recebido pela Palavra de Deus é maldito, não importa quem seja; importa sim é o que fala. E não estamos falando de bruxos, satanistas, feiticeiros, ateus, e outros do mesmo grupo de Apocalipse 22:15: Assim como no caso da igreja da Galácia, o texto aponta para pastores, líderes de ensino, mestres, enfim, todos aqueles que ocupam uma liderança reconhecida pela congregação e estão ensinando doutrinas estranhas ao evangelho genuíno.

            Não há mais como fazer vista grossa a tanto entulho travestido de “doutrina bíblica” que tem invadido nossos púlpitos e nossas casas, através de aparelhos de TV e rádio, jornais e outros veículos de comunicação, como se fosse palavra de Deus. Ensinos que não passam de doutrina de homens, quando não são diretamente ensinos de demônios. Vivem da carnalidade das massas, chegando a estabelecer uma co-dependência  para sua subsistência. Noutra carta, desta vez endereçada ao irmão Timóteo, Paulo recomenda a mesma postura diligente:

Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;
Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;

1Timóteo 4:1,2
             Em certas (várias) congregações, as pessoas não crescem, não amadurecem na fé, pois seus líderes vivem da miséria – principalmente a espiritual – do povo. Acabam por assumir uma situação de mendicância, nos farrapos espirituais pela ênfase às atuações de demônios. Dão “diagnósticos” aos problemas de seus membros (quando estas igrejas têm membros), como se estivessem num nível espiritual superior, como se tivessem poderes próprios para realizar a obra de Deus.

            Usam e ensinam a usar termos criados e usados pelo ocultismo, pela feitiçaria, e por outros ninhos do inimigo, afastando as pessoas cada vez mais da sã doutrina, de um relacionamento sadio com o Senhor Jesus. Onde já se viu na Palavra de Deus termos como “encosto”, “descarrego” (creio que pela lógica, deva então existir o “carrego”), “atendimento com revelação” (isso é coisa de feiticeiros!), “banhos” com as mais variadas quinquilharias, “sessões” (muito usado por feiticeiros), terapia do amor, terapia do sucesso (qual base bíblica para se ministrar “terapia”?), e outros provenientes desse mesmo lixo doutrinário, que não encontram o mínimo embasamento bíblico, e que apenas enfraquece o entendimento do evangelho genuíno, da mesma forma que se fazia nos dias de Paulo.

            Sem falar nas flores, meias, lenços, passar embaixo de “arcos e balões de amor”, óleo santo de Israel (ou de qualquer outro lugar), água do rio Jordão, areia do mesmo rio, espada de Davi (o da pessoa que queria me dar era um cabo de vassoura com papel laminado – para balançar e afastar o inimigo!), anel do amor (não me pergunte que também não entendi), sabão do descarrego (sem comentários), biscoito da bênção, perfume do amor (pasmem: para arrumar namorado!), estrela do rei Davi, sangue do cordeiro pascal, e outros tantos penduricalhos de uma fé rasa e cada vez mais distante do objetivo da Palavra, que é o de nos aproximar do Senhor, e não das coisas. Ouvi de outra dita igreja evangélica, fazendo campanha para “trazer a pessoa amada”, e logo me lembrei dos anúncios das ciganas feiticeiras na cidade, que prometem os mesmos feitiços. Hoje tenho por certo que, quanto mais se afasta da palavra de Deus, menos noção se tem do ridículo.

            Certo pastor me disse que usa artifícios deste tipo para com seus membros, pois “ajuda na fé; materializa, concretiza a fé em algo material”. Que absurdo! É o mesmíssimo argumento usado pelo romanismo para a adoração de ídolos. É o mesmíssimo argumento usado pelo ocultismo para uso de cristais, pedras, amuletos, etc. De onde este pastor tirou isto? Qual base bíblica? E como fica Hebreus 11? E 2Coríntios 7:5? E Gálatas 2:16? E 2Timóteo 4:1-4? Estamos assistindo passivamente a criação de uma geração de débeis na fé (1Coríntios 3), de meninos inconstantes,  de supersticiosos, fundamentados em solo argiloso, que não suporta a mínima provação.

            Outro líder se justificou com o argumento de “usar estes artifícios como estratégia para ganhar, para atrair as pessoas que acreditam nestas coisas ou as praticam”: É o cúmulo da ignorância da palavra e do poder de Deus (Mateus 22:29)! Não podemos nos esquecer de que é o Espírito Santo quem nos convence do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8); na verdade nós não ganhamos ninguém, apenas proclamamos o evangelho e servimos de instrumento para a ação do Espírito Santo. Nosso raio de ação se limita à divulgação do evangelho. Não há problema em falarmos que ganhamos alguém (como instrumento, não como essência), desde que entendamos que na verdade é o Espírito Santo de Deus quem convence, quem realiza a obra. Então, que valor tem estas ditas “estratégias”, se o que conta é o poder de Deus, a ação do Espírito? Será que o evangelho precisa destas “arapucas” para ganhar as pessoas? Não é pela persuasão humana que somos instruídos a agir, como se vê neste trecho da carta aos Coríntios:

E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.
E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor.
A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder;
para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que estão sendo reduzidos a nada;
mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória; (...)
1Coríntios 2:1-7
O que atrai as pessoas é a presença do Senhor, justamente a opção adversa a todos estes caminhos imprestáveis e vazios por si só. O caminho de Deus é algo único e distinto de qualquer outro caminho, e isso é o que deveria ser enfatizado, ao invés de tentar-se imitar práticas mundanas e demoníacas desprovidas de qualquer fruto bom. A palavra de Deus não precisa de ajuda, não fomos chamados para inventar. Resta-nos a reflexão sobre quem e o que realmente se ganha ao agregar pessoas em torno destas distorções, verdadeiras mutações doutrinárias.

            Onde está o ensino de Cristo (2Jo 2:9) nestes argumentos? Onde está a sã doutrina nestas práticas (Tt 1:9)? Em Tito 2:1, somos exortados a falar o que convém à sã doutrina. Em 1Timóteo 1:3, temos a instrução para se advertir a todos para que não ensinem doutrina diversa. Em Hebreus 13:9, temos instrução para não nos deixarmos levar por doutrinas várias e estranhas. Por quê então insistimos nessa tolerância pecaminosa com doutrinas de homens (Cl 2:22), doutrinas estranhas ao ensino da Palavra de Deus, ventos de doutrina, doutrina de demônios, enfim; o que precisa para dar-se um basta nestas práticas no meio do povo de Deus? Responda-me, caro leitor, sem pôr a culpa nos outros, se puder.

            O fato é que existem doutrinas estranhas em nosso meio, e não são poucas. O que falta, ao meu ver, é a devida coragem para identificá-las, assim como seus mestres; há muitos interesses envolvidos e muitos poderes deste mundo tenebroso já se encontram estabelecidos no meio do arraial. Temo pela relação parasitária crescente e contínua que a igreja mantém com estas lideranças, as quais têm imposto sua posição e seus ensinos pela força de Mamon, pela força dos meios de comunicação de massa, e pela força do prestígio político (a propósito, voltamos a nos prostituir com o Estado, como no século IV?). A triste impressão que tenho é a de que, se tiver dinheiro (e nem precisa ser muito) e influência envolvidos no “esquema”, a gente até aceita a convivência com um falso mestre ou uma doutrina estranha, para atender determinado interesse – simplesmente patético.

            Noutra epístola paulina, agora dirigida ao irmão Tito, nota-se a mesma preocupação, no que diz respeito ao estabelecimento ministerial em Creta, haja vista a necessidade da mantença dos mesmos procedimentos adotados em outras igrejas. Assim como hoje, os falsos mestres daqueles dias se tornaram uma praga que se alastrava nos quatro cantos do campo missionário. O texto é forte, e acompanha o mesmo tom grave aplicado aos da Galácia:
Porque há muitos insubordinados, faladores vãos, e enganadores, especialmente os da circuncisão, aos quais é preciso tapar a boca; porque transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância.
Um dentre eles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, glutões preguiçosos.
Este testemunho é verdadeiro. Portanto repreende-os severamente, para que sejam são na fé, não dando ouvidos a fábulas judaicas, nem a mandamentos de homens que se desviam da verdade.
Tudo é puro para os que são puros, mas para os corrompidos e incrédulos nada é puro; antes tanto a sua mente como a sua consciência estão contaminadas.
Afirmam que conhecem a Deus, mas pelas suas obras o negam, sendo abomináveis, e desobedientes, e réprobos para toda boa obra.
Tito 1:10-16
 Zelo pelo respeito devido aos pequeninos que praticam tais ensinos, pela ignorância da sã doutrina, que obedecem de coração sincero e sedentos por mais de Deus – certamente terão do Senhor Jesus a devida recompensa, e serão libertos pelo conhecimento da verdade. Contudo, a todos aqueles que trazem em seus ombros a responsabilidade, a carga do ensino da palavra de Deus e o peso do cajado conferido por Cristo, assim como todos que são iluminados pelo ensino da palavra e conscientemente a abandonam, todos serão cobrados pelo que têm ministrado a igreja do Senhor, assim como agem com respeito àquilo que lhes é ministrado; exatamente como foram nos dias de Paulo.

Não há que se confundir tolerância com aquiescência. A imputabilidade de culpa em casos de ignorância doutrinária é de cunho estritamente provisório, e pede o resgate imediato do ensino da Palavra, em caráter emergencial. Dessa forma, são os crentes de Éfeso exortados:
Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo (...).
Efésios 4:14,15
             Uma das primeiras providências do apóstolo foi a de denunciar as práticas e os praticantes destas perversões doutrinárias. Há um tom de urgência em todo o teor da epístola, recheada de críticas, protestos e objeções. As diferenças entre o apóstolo e os líderes da circuncisão foram expostas com o propósito de se realçar os verdadeiros valores pelos quais um ministério deveria ser avaliado. Movido pelo Espírito de Deus, Paulo ministrou o juízo divino à igreja da Galácia, expondo à luz do evangelho todo o veneno que estavam enfiando garganta adentro daqueles crentes.

            Da mesma forma, tenho a convicção de que é responsabilidade de todos nós zelarmos pela sã doutrina, invocando o juízo de Deus no meio de Sua igreja, para que venha trazer à luz toda manifestação estranha ao Reino de Deus.

            Os falsos mestres devem ser confrontados pela liderança genuína da igreja, face ao desserviço que vêm prestando. E a igreja deve reassumir sua posição de fiel despenseira das coisas do Senhor, sabendo que o zelo do Senhor está sobre a cabeça de todos aqueles que se chamam pelo Seu nome. Fica, por fim, a recomendação à igreja em Filipos:
Acautelai-vos dos cães; acautelai-vos dos maus obreiros; acautelai-vos da falsa circuncisão. Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.
Filipenses 3:2,3



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